sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Queda

Os passos ecoavam pela escadaria cinza, o cheiro do cimento empreguinava suas narinas junto com as memórias de toda sua vida. Foram anos construindo uma personalidade, uma forma de vida, um futuro, para tudo, de repente, se desmoronar. Toda sua vida fora um erro, as pessoas a condenavam, pois era diferente. Sua forma de amar era diferente.
Os olhos enxados de tanto chorar refletiam a tristeza de sua indignação. A primeira condenação que recebeu, mesmo que indiretamente foi de Deus, pois, como era católica, a igreja condenava o ato de amar uma pessoa do mesmo sexo, então, todos aqueles anos indo a igreja e orando antes de dormir de nada valiam, Deus não a amaria mais. Quando ela apresentou Pamela aos pais, foi sua segunda condenação, ela fez o que achava certo, mesmo que Deus não a amasse mais, pelo menos a verdade tinha que ser dita. Mas sua ingenuidade a levou a maior briga que houve em sua vida, mesmo com Pamela segurando sua mão, a reação dos pais a destruiu por dentro.
Aos poucos ela não tinha mais amigos, as feridas invisíveis por ser diferente doíam, nada preenchia aquele vazio. Pamela a trocou por outra, e assim se foi seu porto seguro.
As drogas começaram a lhe trazer uma ligeira alegria de volta, mas iam embora rápido e não compensava, então ela desistiu, e hoje caminhava para sua última tentativa de acabar com tudo.
Ao chegar no parapeito ela deu apenas um grande suspiro e se inclinou ligeiramente para frente até que um vento forte percorre-se sua face, o vento da liberdade daquela vida sem amor, sem amigos, sem expressão e sem Deus.

Um comentário:

Alexandre disse...

Trágico. um tapa na cara da sociedade marcada pelo preconceito, em um tema polêmico em jogo. Gostei do efeito de "chocar" o leitor, mas uma pessoa depressiva e de mente fechada pode ser induzida ao suicídio se pensar muito nessa crônica.