terça-feira, 8 de dezembro de 2009

As freiras cegas de Cali - Parte IV

Era uma manhã de inverno, chovia forte do lado de fora do Convento de São Gabriel no centro de São Paulo, fazia e frio, e em um dos cômodos do convento uma freira entrava em trabalho de parto. A freira era cega, não tinha olhos, e várias outras irmãs a ajudavam naquele parto, havia muito sangue e a futura mãe gritava muito. Haviam outras freiras sem olhos no recinto, ao que elas atribuíam a uma infecção que atingiu várias das internas. Depois de algumas horas, muito sofrimento, gritos, dor e sangue, nascia uma menino no convento sua mãe o batizara de Ângelo.
Limparam a criança e a madre superiora entregou a criança nas mãos da nova mãe que estava fraca por causa do parto.

- Alimente-o Alice, ele precisa de você agora. – Era uma velha senhora de óculos meia lua e olhos verdes, parecia ter origem italiana – Mas querida, não podemos ficar com ele, teremos que colocá-lo para adoção, assim que acabar o período de amamentação.
- Sem problemas madre, eu entendo – respondeu Alice com uma voz cansada, porém angelical.
A tarde o padre Welington, novo na paróquia, foi abençoar mãe e filho, ele era alto, cabelo curto e crespo, seus olhos eram verdes e tinha uma boca de sapo. Seu ritual demorou pouco mais de quinze minutos.
- Que o seu filho tenha um grande futuro irmã Alice – falou o padre que em seguida se retirou.
- Ele terá - falou Alice sozinha, em seguida a porta se abriu mais uma vez entrou uma freira também idosa, com o rosto comprido e com uma venda nos olhos, resultante da recém tirada de olhos.
- Os olhos já foram enterrados no pomar, e a madre superiora já está procurando por orfanatos para seu filho – falou a freira num único tom de voz.
- Quanto aos olhos logo floresceram e em breve teremos os maravilhosos pêssegos albinos para alimentar nossa alma, irmã Lucy – os raros pêssegos albinos, tão saboreados antigamente pelo clã de freiras cegas em Cali, tinha como matéria prima olhos humanos, os pêssegos davam um vida mais longas às freiras – Quanto a madre, você é a próxima na linha de sucessão certo?
- Sim – respondeu a freira carrancuda.
- Então sabe o que fazer – Ângelo começara a chorar e Alice o amamentou novamente.
A noite caia e a velha madre superiora, Dona Dilma, subia com dificuldade a extensa escada em caracol onde ficava seu aposento. No topo da escada deu de cara com irmã Lucy.
- Olá irmã, o que está fazendo aqui? Posso ajudar? - Falou a madre Dilma com um sorriso no rosto.
- Sim – respondeu irmã Lucy, e com um empurrão, fez a madre superiora descer rolando as escadas. Irmã Lucy desceu as escadas, encontrando a madre superiora já morta, em seguida caminhou seus aposentos.
No dia seguinte a polícia e o corpo de bombeiros estavam em frente ao convento, curiosos passavam a informação que uma freira caiu da escada e estava morta, tudo indicava por ser velha demais suas pernas lhe aplicaram um duro golpe. Agora sua alma descansava em paz.
Os dias sombrios passavam rápido no convento de São Gabriel nos dias que sucederam a morte da madre superiora, irmã Lucy tomou posse como próxima encarregada do convento. Ângelo, o lindo bebe de Alice era paparicado por todas as freiras, em especial, as que tinham ficado cegas e nessa semana de luto das irmãs, outras foram perdendo a visão, e os olhos.
Para conseguir que os olhos fossem mesmos extraídos as freiras encontraram um médico que era fascinado pelas forças do mal, no seu passado chegara a tomar sangue humano e abusar sexualmente de cadáveres. Com a chegada da irmã Alice, e com a ajuda de seus conhecimentos sobre as trevas, logo Fernando, o médico, notara do que se tratava. Fernando foi o primeiro médico que se prontificara a dar assistência à Alice, como era de grande nome no Brasil, logo conseguira apadrinhas o convento de São Gabriel para si, atribuía a cegueira à bactéria Acanthamoeba, dessa forma conseguia com que os olhos fossem retirados, mas mal sabiam que essa bactéria só se pegava por usuários de lente de contato que não tem o devido tratamento de profilaxias para com suas lentes.

Algumas semanas se passaram, era uma noite chuvosa e o padre Wellington ajeitava o altar de sua igreja, acabara de dar a última missa do dia e pretendia dormir nessa noite fria. A chuva lá fora caia forte, os trovões cortavam a noite, os relâmpagos faziam com que se iluminasse o altar da igreja de tempos em tempos, uma igreja antiga, vazia e fria com apenas um jovem padre tentando deixar tudo pronto para o dia seguinte. O jovem padre trabalhava calmamente, não deixando nenhum detalhe para trás, seu perfeccionismo exigia em tudo em seu lugar milimétricamente.
Com estrondo as portas principais da igreja se abriram, ele havia esquecido de trancá-las, pensou que a chuva a tivesse aberto, mas ao olhar em direção a porta havia uma jovem curvada, parecia ferida, e ela arfava aceleradamente.
- Desculpe mas a igreja está fechada, volte amanhã minha querida – disse o padre, logo reparou que a moça não parecia bem – Você está bem? Quer que eu chame alguém? – perguntou e foi caminhando ao canto esquerdo do altar para acender as luzes da igreja, sem tirar os olhos da garota.
Quando as luzes se acederam viu que a jovem tinha cabelos cor-de-rosa, maquiagem pesada em torno dos olhos que escorriam pelo seu rosto, não sabia se eram lágrimas ou a chuva que desfizera a sua maquiagem, dando lhe uma aparência sombria. Wellington reconheceu a garota, era Aylen, sua amiga de adolescência, com o qual convivera desde criança. A garota desabou, e o padre foi socorrê-la.
Nos braços do padre, a garota sussurrou:
- Não chame a ambulância, nem a polícia, por favor! – e perdeu os sentidos.

A garota de cabelos cor-de-rosa acordou num pequeno quarto onde só havia uma cama, o sol brilhava intensamente lá fora, sua roupa egra apertada de couro havia sido trocada por um vestido branco e azul claro. Ela sentia muita fome, e não se lembrava da onde estava, nem de como tinha chegado ali.
Rapidamente ela se levantou, ao lado de sua cama havia um espelho, que ela se olhou por alguns instantes, estava sem maquiagem, e tinha profundas olheiras.
- Merda, estou horrível – disse para si mesmo encarando o espelho, em sua bolsa achou um lápis e uma sobra, onde refez sua maquiagem cuidadosamente.
Um barulho vindo da porta a assustou, era o padre Wellington.
- Acordou bela adormecida! – disse o padre carregando uma bandeja com um café da manhã. – Como está se sentindo? Cuidei pessoalmente de você, deixei a porta trancada pra que nenhuma freira viesse lhe perturbar.
- Mas que merda eu to fazendo aqui? – disse rispidamente.
- Eu que lhe pergunto, você me aparece aqui a dois dias, drogada e desmaiando.
- Dois dias?
- Sim, dois dias, há dois dias você está dormindo.
- Merda.
- Por favor, você está numa igreja Aylen.
- Foda-se, to pouco me fodendo para essa merda toda. Preciso ir embora – e foi remexendo em sua bolsa – Seu beato filho da puta, cadê meus bagulhos?
- Joguei fora, você tava se matando.
- Dinheiro, jogado fora.
- Aylen, para, se enxerga olha o que você ta fazendo com a sua vida.
- Vá a merda, eu vou embora – e caminhou até a porta, e ao atravessá-la sentiu uma tontura, tentou se apoiar, e caiu de joelhos. Em seguida começou a chorar. Wellington trouxe-a de volta para a cama e ficou sentado ao lado dela. O seu organismo sentia falta das drogas, a abstinência tomava conta da garota.
- Querida, não vou poder ficar aqui o tempo todo, então vou deixar a chave com você, você sai sempre quando precisar, mas lembre-se sempre de fechar a porta, tem alguma coisa estranha acontecendo aqui ultimamente.
O dia transcorreu com o padre vindo sempre conversar com a nova hospede, e depois do jantar todos foram se recolher, Aylen, não havia visto nenhuma freira ainda e nem as ouvia.
A noite caiu, e o sono não vinha para Aylen, e uma vontade imensa de ir no banheiro tomara conta dela, mas outra coisa tomava conta de seu corpo, ela sentia a falta das drogas, o seu corpo gritava pela química, e não conseguia conter seu vício. Em sua bolsa havia dois pequenos papeizinhos escondidos sob o forrado, que ela colocou na boca, sentou na cama e esperou alguns instantes, e novamente os fatores fisiológicos fizeram-na levantar, ela precisava de um banheiro. Abriu a porta e foi se esgueirando por um caminho escuro, nos corredores do convento. Um barulho chamou sua atenção, parecia um canto e vinha de um quarto próximo.
O quarto assim como o dela, e havia várias freiras lá, na escuridão, seus olhos estavam se acostumando com a escuridão, e ela viu que as freiras não tinham olhos e uma delas carregava um bebê. Na cama havia uma outra freira sentada e essa, despida completamente, tinha olhos, mas olhava para cima, como se estivesse em transe. Uma irmã ficou de em pé de frente pra a mulher nua em sua frente, e num movimento brusco, enfiou cada mão sua numa cavidade ocular da mulher e arrancou seus dois olhos. A mulher não gritou, não gemeu, provavelmente não sentiu nada, em seguida, limparam o sangue que escorrera pelo corpo e vendaram seus olhos com uma faixa branca.
A jovem freira que tinha um bebe no colo anunciou.
- Bem vinda irmã Kananda. Agora minhas irmãs, estamos sendo vigiadas. – e todas se viraram em direção da Aylen – Não deixem que ela escape – e todas freiras foram atrás da hospede de cabelos rosa.
Aylen trancou-se no seu quarto, mas não demorou muito para que as freiras tentassem arrombar a porta, os solavancos eram fortes, e a velha porta parecia não agüentar muito.
Ela só tinha uma alternativa: a janela. Seu quarto ficava no segundo andar do convento, e se quisesse sobreviver teria que pular.
Sentou-se no parapeito da janela, colocou as pernas para fora. E focalizou o chão sob seus pés. Nisso a porta as suas costas abriu-se com estrondo, e a garota de cabelos cor-de-rosa foi agarrada por um freira mais idosa que lhe tentara morder o pescoço, sem alternativas a garota pulou levando junto a freira que lhe atacou.
O impacto da queda fez com que a garota torcesse o tornozelo, e continuasse sua fuga mancando. As freias freiras não pularam mas deram meia volta do aposento para tentar impedir a fuga da visitante. A freira que caíra agonizava depois de ter sido empalada por um cano de ferro sustentava um dos pés de pêssegos albinos.
Aylen corria, mancando, o máximo que suas pernas permitiam, ela tinha que sair daquele convento, e a única saída seria pela igreja, ela deu de encontro com o padre Welligton e os dois foram ao chão.
- Socorro – gritou a garoto – elas querem me matar.
- Aylen, você está drogada de novo, o que você tomou? – retrucou o padre.
- Essas putas querem me matar, deixa eu fugir.
- Elas são freiras, servem a Deus, não fariam mal a ninguém. Agora o que você tomou?
Meia desconcertada a garota respondeu:
- Doce eu acho. Mas elas me atacaram, vai ver a porta do quarto – a visitante não tinha mais certeza se aquilo foi real ou uma ilusão.
- LSD Len? Pára com isso, não aconteceu nada, isso foi tudo sua imaginação.
Alice entrou na sala em que os dois conversavam, Aylen tentou se esconder da freira que não tinha mais olhos.
- Perdão padre, mas as outras freiras forçaram a porta pois a garota gemia alto, e achamos que ela passava mal, então tentamos ajudar, não queríamos assustá-la, nós chamamos, pedimos para ela abrir a porta e como não tivemos respostas começamos a forçar a porta. Então desci apara avisar o senhor para que pudesse fazer algo.
- É? E porque arrancaram os olhos daquela mulher? – perguntou Aylen com um tom de desafio – A tal de Kananda.
- Do que você fala? A irmã Kananda é saudável, cheia de vida e adora os belos prazeres da vida, como enxergar, por exemplo. Nunca faríamos isso com ela. Ela fez a cirurgia de retirada dos olhos há uma semana com o doutor Fernando, pergunte ao padre.
- Sua puta, a mulher está cega e vocês arrancaram os olhos dela – a garota de cabelos cor-de-rosa estava fora de si já.
- Chega Aylen, você já foi longe demais, elas são freiras, vamos para o quarto e amanhã por favor você terá que sair daqui – informou o padre que estava decepcionado com a amiga – E alias, elas ficaram cegas por causa de uma infecção e os olhos foram extraídos com procedimentos cirúrgicos, com médicos.
Uma velha senhora, uma irmã, chegou na sala toda ensangüentada, com uma cara muito preocupada, era uma das freiras que ainda tinham olhos.
- Padre, me desculpe, mas chame um médico, alguém empurrou a irmã Selma da janela de um dormitório – e apenas olhou para Aylen, por respeitar muito o padre, a freira não a acusou diretamente.
O padre levou um grande susto, não sabia o que fazer, só a sua amiga poderia ter feito isso com a pobre freira.
- Irmã Carolina, por favor, vá na minha sala e chame uma ambulância e a polícia.
- Você não pode fazer isso comigo, a não ser que você também faça parte dessa seita maldita junto com essas putas – disse Aylen inquieta.
- Você é uma drogada psicótica – gritou o padre para a amiga – Você vai acabar com a minha igreja, você sempre destrói a vida de todo mundo que você chega perto, você só pensa em você, você não se importa com ninguém, nunca se importou. Você é louca e precisa de tratamento, você precisa de um corretivo – a freira logo saiu constrangida por ter visto aquela briga, o padre sempre fora uma pessoa gentil e essa era a primeira vez que se descontrolara. Tal reação foi devido ao sentimento que o homem sentia por sua amiga de infância, não queria vê-la acabada, queria apenas ajudar, como sempre fez durante toda a sua vida.

A velha freira que foi orientada pelo padre a chamar as autoridades entrou no escritório do padre, estava nervosa por encontrar a irmã Selma ensangüentada, agonizando de dor, ela tremia, sua mãos mal conseguiam pressionar os botões do velho telefone, estava de costas para a porta onde entrara. Alice surgiu atrás da irmã com uma faca na mãe, que em um movimento rápido cortou sua garganta quando a mulher virou pra ver quem estava atrás dela. A irmã, já idosa, levou a mão a garganta, tentando inutilmente, para o sangramento, sua voz não saiu e logo estava morta, e o chão lavado de sangue.
O padre Wellington e Aylen ouviram um barulho na sala do padre, e os dois juntos, com passos largos e rápidos, foram ver o que havia acontecido, e se deparam com a cena chocante de uma freira idosa degolada na sala, o sangue estava por toda parte. O padre tentara ligar para a polícia, mas haviam cortado o fio do telefone. Wellington não procurou o seu celular nos bolsos da calça, já que não vestia mais sua túnica, e o encontrou com pouca bateria, tinha esquecido de recarregá-lo. Sua chamada foi para a polícia, havia um assassino entre eles e poderia entre eles, escondido. A chamada foi atendida.
- Socorro, preciso de ajuda, falo da diocese de São Gabriel e houve um assas... – a irmã Kananda, pegou o telefone das mãos do padre e jogou contra a parede com toda sua força, seus olhos estavam vendados e por baixo da venda escorria um pouco de sangue – Por que você fez isso minha filha?
- Acho eu ela não vai te responder, venha – e Aylen puxou o amigo pelo braço pelos corredores do convento, correndo – Eu avisei que elas eram loucas e assassinas, mas pra que acreditar numa chapada...
Os dois correram até uma saída do convento, que estava trancada, as freiras tinham um plano e neste plano ninguém poderia sair ou entrar naquele recinto. A igreja e o convento foram interligados há vários anos e apenas três saídas ficaram disponíveis depois da reforma: a porta principal do convento, a porta principal da igreja e uma porta lateral à igreja.
- Len, me perdoe por ter duvidado de você, mas...
- Eu dei motivos, eu sei – terminou a frase.
- Mas se elas estavam com todo esse teatro para tentar lhe incriminar, por que começaram chacina? – questionou o padre.
- Acho que porque acharam um modo de matar a todos, e ter alguém apara culpar depois – deduziu Aylen.
- Vem vamos – disse o padre – Vamos tentar sair pela porta da igreja.

Do lado de fora do convento uma mendiga parou em frente a porta principal, e ficou observando, luzes vermelhas e azuis distraíram sua atenção da porta, uma viatura policial parara, e um policial desceu do carro, o policial tinha por volta de seus trinta anos, usava cabelos curtos o que ressaltava o inicio da calvície, ele era muito bonito e sabia disso, tornando-se meio arrogante de vez em quando.
- 9-12-714 Diego no recinto da ocorrência, parece tudo normal aqui de fora, vou entrar – reportou a central de comando.
O policial bateu na porta, e depois de alguns momentos, tentou abrir, estava trancada. Ele rondou o convento e encontrou uma janela aberta, por onde entrou.
A mendiga continuou a olhar para a porta do convento.

A porta de saída da igreja também estava trancada, constatou o padre, Aylen e Wellington estavam sós, todo o recinto estava escuro, e não havia nenhum sinal das freiras, nem um único ruído, o silencio mórbido assustava o padre, que começou a orar.
- Suas orações não vão te salvar padre – dizia Alice que saia das sombras carregando seu filho Ângelo – Você sabia que essa criança é o anti-cristo? Depois de tantos anos nós conseguimos trazer nosso grande senhor de volta para reinar este mundo. E essa noite, vocês dois serão sacrificados para o nosso deus - outras freiras sem olhos começaram a surgir escuridão algumas com objetos na mão como castiçais, facas e tesouras.
Gregory a poucos metros dali conseguia enxergar com certa dificuldade aquela aglomeração de freiras prontas para atacar.
- Todos parados! – gritou, e todas as atenções foram para ele.
Todas as freiras armadas correram em sua direção, Aylen e o padre aproveitaram a deixa para fugirem daquela horda de freiras assassinas. O policial descarregou suas arma nas freiras, algumas caíram, mas o pente não foi suficiente para deter todas, ele foi brutalmente assassinado com tesouradas no rosto.
- Vão atrás daquela putinha e do padre – ordenou Alice gritando e todas as freiras se dispersaram ficando apenas Alice, o bebê e o policial morto no recinto.
Alice caminhou até o homem morto, ajoelhou ao lado de seu rosto deformado, e arrancou os olhos com a mão. Ângelo, o bebê, começou a choramingar então Alice colocou seu dedo indicador manchado de sangue na boca do bebê que se deliciou com o sangue e se calou.

Não havia nenhuma luz no convento, tudo estava escuro, Aylen ajeitava o vestido para que ficasse mais fácil sua fuga deixando a mostra algumas partes do seu corpo escultural. O padre observou a amiga se arrumando e sentiu um movimento abaixo do ventre, seu desejo sexual ainda existia, mas foi fiel a seu celibato.
- O policial tinha uma arma, precisamos dela – falou Aylen com firmeza enquanto colocava a bota – Aquelas vacas podem ter nos deixado sem comunicação, mas estamos no meio de São Paulo, vamos queimar essa merda e em cinco minutos teremos bombeiros aqui pra dar com pau.
- Essa é a casa de Deus, não podemos queima-lá Len.
- Fala isso então para suas amiguinhas sem olhos e assassinas.
O jardim era cercado pela contrução do convento não havendo uma saída também, uma planta chamou a atenção do padre naquele jardim, algumas plantas estavam com um brilho diferente, uma planta que ele nunca notara antes, cheirou as folhas e constatou. Eram pessegueiros, ele começou a cavar a terra para ver o que havia de diferente e seus dedos se depararam com tecidos mortos, eram olhos...
As freiras romperam as janelas de vidro que dava para o jardim, todas armadas. O padre levou uma tesourada na perna mas conseguiu escapar junto com a menina de cabelo rosa.
- Posso por meu plano em pratica? – sugeriu Aylen.
- Sim, concordo plenamente com você – tinha uma tom de medo na voz do padre.
- Vamos nos separar. Eu vou atrás da arma e você atrás de algo inflamável.
- Tem certeza? - interrogou o padre incerto.
- Sim! Somos alvos mais fáceis se estivermos juntos.

Aylen ainda sentia o efeito das drogas em seu corpo, as vezes se perguntava se aquilo era real ou apenas mais uma de suas alucinações, talvez fosse por esse motivo que não sentia medo, ela se sentia imortal, e até que provassem o contrário ela era.
Ao chegar no saguão da igreja, onde o policial foi morto, Aylen se deparou com o corpo jogado e começou a procurar pela arma, mas ela não estava mais lá. A garota de cabelos cor-de-rosa estava na igreja de fronte ao altar e nos fundos ouviu uma voz feminina familiar.
- Procurando pela arma? Ela está comigo – a voz era da irmã Kananda, que mesmo sem olhos tinha uma certa beleza, elas não usava mais seu habito e seu cabelo estava solto.
A arma até poderia estar em sua mão, mas as balas sobressalentes ainda estavam no cinto do policial, logo a arma estava descarregada e baleada Aylen não morreria.
- Pega eu piranha – provou Aylen.
A mulher veio correndo em sua direção, a arma estava na sua cintura, e as mãos vazias, ao chegar perto de Aylen, Kananda levou um soco de direita no rosto e caiu batendo a cabeça no banco de madeira, quebrando seu pescoço e matando-a.
- Agora sim você conhecerá Jesus.
Marien pegou a arma e carregou. Nisso uma horda de freiras cegas entravam no saguão, inclusive Alice com seu filho e o padre de prisioneiro.

- Uma, duas, três, seis, oito, nove,onze – contava Aylen quantas freiras tinham, e mesmo com um mira perfeita só conseguiria matar seis delas.
- Este herege está queimando nosso santuário - começou Alice – Agora devemos sacrificá-lo para o nosso deus, e seu filho, que dá o ar de sua presença conosco – e ergueu o pequeno Ângelo mostrando-o.
O padre conseguiu colocar fogo em uma parte do convento e a fumaça estava nos céus era uma questão de tempo para que viesse ajuda.
Uma freira idosa ensopou o padre com um liquido, Aylen logo deduziu que iriam queimá-lo vivo.
- Você também será sacrificada – falou Alice para Aylen.
- Pode até ser, mas eu vou dar um pouco de trabalho – sua mira foi precisa e uma bala atravessou a cabeçada freira idosa que jogara o liquido no padre. Alice saiu correndo com seu filho nos braços, e mais cinco balas cortaram o silencio da igreja. Havia mais três freiras mortas, seus tiros não foram perfeitos, outras seis freiras correram armadas com facas e tesouras em sua direção, não havendo tempo para recarregar a arma, Aylen usou suas técnicas de defesa pessoal que havia aprendido. Segurou a mão armada com uma faca de uma freira e enfiou na barriga de outra que estava com uma tesoura. Ela se armou com as armas das freiras, e com uma faca na mão direita e uma tesoura na esquerda matou as outras freiras.
Logo depois Aylen caiu de joelhos, havia uma tesoura fincada em suas costas, onde provavelmente lhe perfurara o seu rim, mas por causa dos efeitos das drogas ela não sentia nada.
O padre andou em sua direção a amiga para lhe socorrer, mas as suas costas uma jovem freira se agachou no rastro de álcool que o padre fizeram ao andou e acendeu um isqueiro, o fogo percorreu o caminho muito rápido e queimou o padre, que gritava e se tentava se livrar de suas roupas, não demorou muito para que ele caísse sem gritos e em chamas a poucos metros de Aylen.
Aylen soltou um grito de fúria e correu em direção a freira que continuava agachada, e acertou-lhe um chute na cara, fazendo a freira cair morta.
Seu desespero era tanto que nem reparou nas sirenes chegando, ela carregou a arma com as ultimas três balas, e tinha que matar Alice e seu filho Ângelo.

Aylen estava perdendo muito sangue, seu sentimento de imortalidade estava passando, ela se sentia fraca, e por mais vontade que sentisse de cair e ficar lá deitada, sua sede por vingança era maior, e com muita dificuldade caminhava até o pátio onde se dividia a igreja do convento por um lindo jardim.
Alice estava no centro do pátio ao lado de uma arvore com seu filho nos braços, às suas costas o convento ardia em chamas, Aylen que estava de frente na porta dos fundos da igreja olhava de frente para a mulher que causara tudo isso. O calor estava insuportável e Alice fazia de tudo para proteger seu filho.
A arma de Aylen estava mirada para Alice, e em passos pequenos contornava a freira que não se movia.
Bombeiros e policiais começaram a surgir pela porta do fundos da igreja, os policiais logo apontaram suas armas para Aylen, todos tentavam acalmar a mulher armada.
- Solte a arma, se renda, você está cercada – ordenou o capitão dos policiais.
- Não! Vocês não entendem, ela é a vilã da história!
- Largue a arma agora – repetiu o homem, então Maurien notou que alguns policiais às suas costas se aproximavam cautelosamente.
A garota rebelde de cabelos cor-de-rosa lembrou de tudo o fizera durante sua vida, percebendo esses sentimentos, muitos relacionados ao rancor da garota, Alice virou-se e ficou de frente com Aylen. Então Aylen respirou fundo...
- Foda-se – disse a garota para si mesma, descarregando as ultimas três balas da arma na freira, que conseguiu proteger seu filho virando-se. A rajada de balas dos policiais nem foi sentida por Aylen, que já estava morta antes de chegar ao chão.

Não houveram sobreviventes no Convento de São Gabriel, as que não estavam na igreja foram consumidas pelo fogo que demorou alguma horas para ser controlado, o bebê de Alice, Ângelo, nada sofreu, apenas algumas escoriações bem leves, ele foi levado por uma policial até uma ambulância, onde teve os primeiros cuidados. O enfermeiro que cuidava da criança foi surpreendido por uma mendiga de cabeça baixa que estava do lado de fora da ambulância.
- Desculpe senhora, mas não pode ficar aqui, pode ir para trás da faixa por favor?
A mendiga tentou dizer algo, mas sua voz não saia, logo, o enfermeiro viu um terrível cicatriz que a mulher tinha em seu pescoço, então o home se aproximou da mulher que vestia algumas roupas velhas, roupas que lhe parecia muito um hábito velho.
Ao chegar bem perto da mulher ela levantou a cabeça, mostrando que em seu rosto faltava-lhe os olhos, e uma faca atravessou o peito do enfermeiro.
A mulher pegou o bebê e saiu caminhando, passando entre os curiosos que observavam a ação dos bombeiros, sem ser notada. Seu nome era Camila, e a última freira cega.

Para Jéssika, Kananda, Maurien, Te, Grégory e Apolonio


2 comentários:

Luiza Ohana Bravo disse...

Ah, q tesãoooo!!! AMEIIIIIIIII!!! *-*

Jéssika disse...

morri. Mas parabéns Léo :)