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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

As freiras cegas de Cali - Parte IV

Era uma manhã de inverno, chovia forte do lado de fora do Convento de São Gabriel no centro de São Paulo, fazia e frio, e em um dos cômodos do convento uma freira entrava em trabalho de parto. A freira era cega, não tinha olhos, e várias outras irmãs a ajudavam naquele parto, havia muito sangue e a futura mãe gritava muito. Haviam outras freiras sem olhos no recinto, ao que elas atribuíam a uma infecção que atingiu várias das internas. Depois de algumas horas, muito sofrimento, gritos, dor e sangue, nascia uma menino no convento sua mãe o batizara de Ângelo.
Limparam a criança e a madre superiora entregou a criança nas mãos da nova mãe que estava fraca por causa do parto.

- Alimente-o Alice, ele precisa de você agora. – Era uma velha senhora de óculos meia lua e olhos verdes, parecia ter origem italiana – Mas querida, não podemos ficar com ele, teremos que colocá-lo para adoção, assim que acabar o período de amamentação.
- Sem problemas madre, eu entendo – respondeu Alice com uma voz cansada, porém angelical.
A tarde o padre Welington, novo na paróquia, foi abençoar mãe e filho, ele era alto, cabelo curto e crespo, seus olhos eram verdes e tinha uma boca de sapo. Seu ritual demorou pouco mais de quinze minutos.
- Que o seu filho tenha um grande futuro irmã Alice – falou o padre que em seguida se retirou.
- Ele terá - falou Alice sozinha, em seguida a porta se abriu mais uma vez entrou uma freira também idosa, com o rosto comprido e com uma venda nos olhos, resultante da recém tirada de olhos.
- Os olhos já foram enterrados no pomar, e a madre superiora já está procurando por orfanatos para seu filho – falou a freira num único tom de voz.
- Quanto aos olhos logo floresceram e em breve teremos os maravilhosos pêssegos albinos para alimentar nossa alma, irmã Lucy – os raros pêssegos albinos, tão saboreados antigamente pelo clã de freiras cegas em Cali, tinha como matéria prima olhos humanos, os pêssegos davam um vida mais longas às freiras – Quanto a madre, você é a próxima na linha de sucessão certo?
- Sim – respondeu a freira carrancuda.
- Então sabe o que fazer – Ângelo começara a chorar e Alice o amamentou novamente.
A noite caia e a velha madre superiora, Dona Dilma, subia com dificuldade a extensa escada em caracol onde ficava seu aposento. No topo da escada deu de cara com irmã Lucy.
- Olá irmã, o que está fazendo aqui? Posso ajudar? - Falou a madre Dilma com um sorriso no rosto.
- Sim – respondeu irmã Lucy, e com um empurrão, fez a madre superiora descer rolando as escadas. Irmã Lucy desceu as escadas, encontrando a madre superiora já morta, em seguida caminhou seus aposentos.
No dia seguinte a polícia e o corpo de bombeiros estavam em frente ao convento, curiosos passavam a informação que uma freira caiu da escada e estava morta, tudo indicava por ser velha demais suas pernas lhe aplicaram um duro golpe. Agora sua alma descansava em paz.
Os dias sombrios passavam rápido no convento de São Gabriel nos dias que sucederam a morte da madre superiora, irmã Lucy tomou posse como próxima encarregada do convento. Ângelo, o lindo bebe de Alice era paparicado por todas as freiras, em especial, as que tinham ficado cegas e nessa semana de luto das irmãs, outras foram perdendo a visão, e os olhos.
Para conseguir que os olhos fossem mesmos extraídos as freiras encontraram um médico que era fascinado pelas forças do mal, no seu passado chegara a tomar sangue humano e abusar sexualmente de cadáveres. Com a chegada da irmã Alice, e com a ajuda de seus conhecimentos sobre as trevas, logo Fernando, o médico, notara do que se tratava. Fernando foi o primeiro médico que se prontificara a dar assistência à Alice, como era de grande nome no Brasil, logo conseguira apadrinhas o convento de São Gabriel para si, atribuía a cegueira à bactéria Acanthamoeba, dessa forma conseguia com que os olhos fossem retirados, mas mal sabiam que essa bactéria só se pegava por usuários de lente de contato que não tem o devido tratamento de profilaxias para com suas lentes.

Algumas semanas se passaram, era uma noite chuvosa e o padre Wellington ajeitava o altar de sua igreja, acabara de dar a última missa do dia e pretendia dormir nessa noite fria. A chuva lá fora caia forte, os trovões cortavam a noite, os relâmpagos faziam com que se iluminasse o altar da igreja de tempos em tempos, uma igreja antiga, vazia e fria com apenas um jovem padre tentando deixar tudo pronto para o dia seguinte. O jovem padre trabalhava calmamente, não deixando nenhum detalhe para trás, seu perfeccionismo exigia em tudo em seu lugar milimétricamente.
Com estrondo as portas principais da igreja se abriram, ele havia esquecido de trancá-las, pensou que a chuva a tivesse aberto, mas ao olhar em direção a porta havia uma jovem curvada, parecia ferida, e ela arfava aceleradamente.
- Desculpe mas a igreja está fechada, volte amanhã minha querida – disse o padre, logo reparou que a moça não parecia bem – Você está bem? Quer que eu chame alguém? – perguntou e foi caminhando ao canto esquerdo do altar para acender as luzes da igreja, sem tirar os olhos da garota.
Quando as luzes se acederam viu que a jovem tinha cabelos cor-de-rosa, maquiagem pesada em torno dos olhos que escorriam pelo seu rosto, não sabia se eram lágrimas ou a chuva que desfizera a sua maquiagem, dando lhe uma aparência sombria. Wellington reconheceu a garota, era Aylen, sua amiga de adolescência, com o qual convivera desde criança. A garota desabou, e o padre foi socorrê-la.
Nos braços do padre, a garota sussurrou:
- Não chame a ambulância, nem a polícia, por favor! – e perdeu os sentidos.

A garota de cabelos cor-de-rosa acordou num pequeno quarto onde só havia uma cama, o sol brilhava intensamente lá fora, sua roupa egra apertada de couro havia sido trocada por um vestido branco e azul claro. Ela sentia muita fome, e não se lembrava da onde estava, nem de como tinha chegado ali.
Rapidamente ela se levantou, ao lado de sua cama havia um espelho, que ela se olhou por alguns instantes, estava sem maquiagem, e tinha profundas olheiras.
- Merda, estou horrível – disse para si mesmo encarando o espelho, em sua bolsa achou um lápis e uma sobra, onde refez sua maquiagem cuidadosamente.
Um barulho vindo da porta a assustou, era o padre Wellington.
- Acordou bela adormecida! – disse o padre carregando uma bandeja com um café da manhã. – Como está se sentindo? Cuidei pessoalmente de você, deixei a porta trancada pra que nenhuma freira viesse lhe perturbar.
- Mas que merda eu to fazendo aqui? – disse rispidamente.
- Eu que lhe pergunto, você me aparece aqui a dois dias, drogada e desmaiando.
- Dois dias?
- Sim, dois dias, há dois dias você está dormindo.
- Merda.
- Por favor, você está numa igreja Aylen.
- Foda-se, to pouco me fodendo para essa merda toda. Preciso ir embora – e foi remexendo em sua bolsa – Seu beato filho da puta, cadê meus bagulhos?
- Joguei fora, você tava se matando.
- Dinheiro, jogado fora.
- Aylen, para, se enxerga olha o que você ta fazendo com a sua vida.
- Vá a merda, eu vou embora – e caminhou até a porta, e ao atravessá-la sentiu uma tontura, tentou se apoiar, e caiu de joelhos. Em seguida começou a chorar. Wellington trouxe-a de volta para a cama e ficou sentado ao lado dela. O seu organismo sentia falta das drogas, a abstinência tomava conta da garota.
- Querida, não vou poder ficar aqui o tempo todo, então vou deixar a chave com você, você sai sempre quando precisar, mas lembre-se sempre de fechar a porta, tem alguma coisa estranha acontecendo aqui ultimamente.
O dia transcorreu com o padre vindo sempre conversar com a nova hospede, e depois do jantar todos foram se recolher, Aylen, não havia visto nenhuma freira ainda e nem as ouvia.
A noite caiu, e o sono não vinha para Aylen, e uma vontade imensa de ir no banheiro tomara conta dela, mas outra coisa tomava conta de seu corpo, ela sentia a falta das drogas, o seu corpo gritava pela química, e não conseguia conter seu vício. Em sua bolsa havia dois pequenos papeizinhos escondidos sob o forrado, que ela colocou na boca, sentou na cama e esperou alguns instantes, e novamente os fatores fisiológicos fizeram-na levantar, ela precisava de um banheiro. Abriu a porta e foi se esgueirando por um caminho escuro, nos corredores do convento. Um barulho chamou sua atenção, parecia um canto e vinha de um quarto próximo.
O quarto assim como o dela, e havia várias freiras lá, na escuridão, seus olhos estavam se acostumando com a escuridão, e ela viu que as freiras não tinham olhos e uma delas carregava um bebê. Na cama havia uma outra freira sentada e essa, despida completamente, tinha olhos, mas olhava para cima, como se estivesse em transe. Uma irmã ficou de em pé de frente pra a mulher nua em sua frente, e num movimento brusco, enfiou cada mão sua numa cavidade ocular da mulher e arrancou seus dois olhos. A mulher não gritou, não gemeu, provavelmente não sentiu nada, em seguida, limparam o sangue que escorrera pelo corpo e vendaram seus olhos com uma faixa branca.
A jovem freira que tinha um bebe no colo anunciou.
- Bem vinda irmã Kananda. Agora minhas irmãs, estamos sendo vigiadas. – e todas se viraram em direção da Aylen – Não deixem que ela escape – e todas freiras foram atrás da hospede de cabelos rosa.
Aylen trancou-se no seu quarto, mas não demorou muito para que as freiras tentassem arrombar a porta, os solavancos eram fortes, e a velha porta parecia não agüentar muito.
Ela só tinha uma alternativa: a janela. Seu quarto ficava no segundo andar do convento, e se quisesse sobreviver teria que pular.
Sentou-se no parapeito da janela, colocou as pernas para fora. E focalizou o chão sob seus pés. Nisso a porta as suas costas abriu-se com estrondo, e a garota de cabelos cor-de-rosa foi agarrada por um freira mais idosa que lhe tentara morder o pescoço, sem alternativas a garota pulou levando junto a freira que lhe atacou.
O impacto da queda fez com que a garota torcesse o tornozelo, e continuasse sua fuga mancando. As freias freiras não pularam mas deram meia volta do aposento para tentar impedir a fuga da visitante. A freira que caíra agonizava depois de ter sido empalada por um cano de ferro sustentava um dos pés de pêssegos albinos.
Aylen corria, mancando, o máximo que suas pernas permitiam, ela tinha que sair daquele convento, e a única saída seria pela igreja, ela deu de encontro com o padre Welligton e os dois foram ao chão.
- Socorro – gritou a garoto – elas querem me matar.
- Aylen, você está drogada de novo, o que você tomou? – retrucou o padre.
- Essas putas querem me matar, deixa eu fugir.
- Elas são freiras, servem a Deus, não fariam mal a ninguém. Agora o que você tomou?
Meia desconcertada a garota respondeu:
- Doce eu acho. Mas elas me atacaram, vai ver a porta do quarto – a visitante não tinha mais certeza se aquilo foi real ou uma ilusão.
- LSD Len? Pára com isso, não aconteceu nada, isso foi tudo sua imaginação.
Alice entrou na sala em que os dois conversavam, Aylen tentou se esconder da freira que não tinha mais olhos.
- Perdão padre, mas as outras freiras forçaram a porta pois a garota gemia alto, e achamos que ela passava mal, então tentamos ajudar, não queríamos assustá-la, nós chamamos, pedimos para ela abrir a porta e como não tivemos respostas começamos a forçar a porta. Então desci apara avisar o senhor para que pudesse fazer algo.
- É? E porque arrancaram os olhos daquela mulher? – perguntou Aylen com um tom de desafio – A tal de Kananda.
- Do que você fala? A irmã Kananda é saudável, cheia de vida e adora os belos prazeres da vida, como enxergar, por exemplo. Nunca faríamos isso com ela. Ela fez a cirurgia de retirada dos olhos há uma semana com o doutor Fernando, pergunte ao padre.
- Sua puta, a mulher está cega e vocês arrancaram os olhos dela – a garota de cabelos cor-de-rosa estava fora de si já.
- Chega Aylen, você já foi longe demais, elas são freiras, vamos para o quarto e amanhã por favor você terá que sair daqui – informou o padre que estava decepcionado com a amiga – E alias, elas ficaram cegas por causa de uma infecção e os olhos foram extraídos com procedimentos cirúrgicos, com médicos.
Uma velha senhora, uma irmã, chegou na sala toda ensangüentada, com uma cara muito preocupada, era uma das freiras que ainda tinham olhos.
- Padre, me desculpe, mas chame um médico, alguém empurrou a irmã Selma da janela de um dormitório – e apenas olhou para Aylen, por respeitar muito o padre, a freira não a acusou diretamente.
O padre levou um grande susto, não sabia o que fazer, só a sua amiga poderia ter feito isso com a pobre freira.
- Irmã Carolina, por favor, vá na minha sala e chame uma ambulância e a polícia.
- Você não pode fazer isso comigo, a não ser que você também faça parte dessa seita maldita junto com essas putas – disse Aylen inquieta.
- Você é uma drogada psicótica – gritou o padre para a amiga – Você vai acabar com a minha igreja, você sempre destrói a vida de todo mundo que você chega perto, você só pensa em você, você não se importa com ninguém, nunca se importou. Você é louca e precisa de tratamento, você precisa de um corretivo – a freira logo saiu constrangida por ter visto aquela briga, o padre sempre fora uma pessoa gentil e essa era a primeira vez que se descontrolara. Tal reação foi devido ao sentimento que o homem sentia por sua amiga de infância, não queria vê-la acabada, queria apenas ajudar, como sempre fez durante toda a sua vida.

A velha freira que foi orientada pelo padre a chamar as autoridades entrou no escritório do padre, estava nervosa por encontrar a irmã Selma ensangüentada, agonizando de dor, ela tremia, sua mãos mal conseguiam pressionar os botões do velho telefone, estava de costas para a porta onde entrara. Alice surgiu atrás da irmã com uma faca na mãe, que em um movimento rápido cortou sua garganta quando a mulher virou pra ver quem estava atrás dela. A irmã, já idosa, levou a mão a garganta, tentando inutilmente, para o sangramento, sua voz não saiu e logo estava morta, e o chão lavado de sangue.
O padre Wellington e Aylen ouviram um barulho na sala do padre, e os dois juntos, com passos largos e rápidos, foram ver o que havia acontecido, e se deparam com a cena chocante de uma freira idosa degolada na sala, o sangue estava por toda parte. O padre tentara ligar para a polícia, mas haviam cortado o fio do telefone. Wellington não procurou o seu celular nos bolsos da calça, já que não vestia mais sua túnica, e o encontrou com pouca bateria, tinha esquecido de recarregá-lo. Sua chamada foi para a polícia, havia um assassino entre eles e poderia entre eles, escondido. A chamada foi atendida.
- Socorro, preciso de ajuda, falo da diocese de São Gabriel e houve um assas... – a irmã Kananda, pegou o telefone das mãos do padre e jogou contra a parede com toda sua força, seus olhos estavam vendados e por baixo da venda escorria um pouco de sangue – Por que você fez isso minha filha?
- Acho eu ela não vai te responder, venha – e Aylen puxou o amigo pelo braço pelos corredores do convento, correndo – Eu avisei que elas eram loucas e assassinas, mas pra que acreditar numa chapada...
Os dois correram até uma saída do convento, que estava trancada, as freiras tinham um plano e neste plano ninguém poderia sair ou entrar naquele recinto. A igreja e o convento foram interligados há vários anos e apenas três saídas ficaram disponíveis depois da reforma: a porta principal do convento, a porta principal da igreja e uma porta lateral à igreja.
- Len, me perdoe por ter duvidado de você, mas...
- Eu dei motivos, eu sei – terminou a frase.
- Mas se elas estavam com todo esse teatro para tentar lhe incriminar, por que começaram chacina? – questionou o padre.
- Acho que porque acharam um modo de matar a todos, e ter alguém apara culpar depois – deduziu Aylen.
- Vem vamos – disse o padre – Vamos tentar sair pela porta da igreja.

Do lado de fora do convento uma mendiga parou em frente a porta principal, e ficou observando, luzes vermelhas e azuis distraíram sua atenção da porta, uma viatura policial parara, e um policial desceu do carro, o policial tinha por volta de seus trinta anos, usava cabelos curtos o que ressaltava o inicio da calvície, ele era muito bonito e sabia disso, tornando-se meio arrogante de vez em quando.
- 9-12-714 Diego no recinto da ocorrência, parece tudo normal aqui de fora, vou entrar – reportou a central de comando.
O policial bateu na porta, e depois de alguns momentos, tentou abrir, estava trancada. Ele rondou o convento e encontrou uma janela aberta, por onde entrou.
A mendiga continuou a olhar para a porta do convento.

A porta de saída da igreja também estava trancada, constatou o padre, Aylen e Wellington estavam sós, todo o recinto estava escuro, e não havia nenhum sinal das freiras, nem um único ruído, o silencio mórbido assustava o padre, que começou a orar.
- Suas orações não vão te salvar padre – dizia Alice que saia das sombras carregando seu filho Ângelo – Você sabia que essa criança é o anti-cristo? Depois de tantos anos nós conseguimos trazer nosso grande senhor de volta para reinar este mundo. E essa noite, vocês dois serão sacrificados para o nosso deus - outras freiras sem olhos começaram a surgir escuridão algumas com objetos na mão como castiçais, facas e tesouras.
Gregory a poucos metros dali conseguia enxergar com certa dificuldade aquela aglomeração de freiras prontas para atacar.
- Todos parados! – gritou, e todas as atenções foram para ele.
Todas as freiras armadas correram em sua direção, Aylen e o padre aproveitaram a deixa para fugirem daquela horda de freiras assassinas. O policial descarregou suas arma nas freiras, algumas caíram, mas o pente não foi suficiente para deter todas, ele foi brutalmente assassinado com tesouradas no rosto.
- Vão atrás daquela putinha e do padre – ordenou Alice gritando e todas as freiras se dispersaram ficando apenas Alice, o bebê e o policial morto no recinto.
Alice caminhou até o homem morto, ajoelhou ao lado de seu rosto deformado, e arrancou os olhos com a mão. Ângelo, o bebê, começou a choramingar então Alice colocou seu dedo indicador manchado de sangue na boca do bebê que se deliciou com o sangue e se calou.

Não havia nenhuma luz no convento, tudo estava escuro, Aylen ajeitava o vestido para que ficasse mais fácil sua fuga deixando a mostra algumas partes do seu corpo escultural. O padre observou a amiga se arrumando e sentiu um movimento abaixo do ventre, seu desejo sexual ainda existia, mas foi fiel a seu celibato.
- O policial tinha uma arma, precisamos dela – falou Aylen com firmeza enquanto colocava a bota – Aquelas vacas podem ter nos deixado sem comunicação, mas estamos no meio de São Paulo, vamos queimar essa merda e em cinco minutos teremos bombeiros aqui pra dar com pau.
- Essa é a casa de Deus, não podemos queima-lá Len.
- Fala isso então para suas amiguinhas sem olhos e assassinas.
O jardim era cercado pela contrução do convento não havendo uma saída também, uma planta chamou a atenção do padre naquele jardim, algumas plantas estavam com um brilho diferente, uma planta que ele nunca notara antes, cheirou as folhas e constatou. Eram pessegueiros, ele começou a cavar a terra para ver o que havia de diferente e seus dedos se depararam com tecidos mortos, eram olhos...
As freiras romperam as janelas de vidro que dava para o jardim, todas armadas. O padre levou uma tesourada na perna mas conseguiu escapar junto com a menina de cabelo rosa.
- Posso por meu plano em pratica? – sugeriu Aylen.
- Sim, concordo plenamente com você – tinha uma tom de medo na voz do padre.
- Vamos nos separar. Eu vou atrás da arma e você atrás de algo inflamável.
- Tem certeza? - interrogou o padre incerto.
- Sim! Somos alvos mais fáceis se estivermos juntos.

Aylen ainda sentia o efeito das drogas em seu corpo, as vezes se perguntava se aquilo era real ou apenas mais uma de suas alucinações, talvez fosse por esse motivo que não sentia medo, ela se sentia imortal, e até que provassem o contrário ela era.
Ao chegar no saguão da igreja, onde o policial foi morto, Aylen se deparou com o corpo jogado e começou a procurar pela arma, mas ela não estava mais lá. A garota de cabelos cor-de-rosa estava na igreja de fronte ao altar e nos fundos ouviu uma voz feminina familiar.
- Procurando pela arma? Ela está comigo – a voz era da irmã Kananda, que mesmo sem olhos tinha uma certa beleza, elas não usava mais seu habito e seu cabelo estava solto.
A arma até poderia estar em sua mão, mas as balas sobressalentes ainda estavam no cinto do policial, logo a arma estava descarregada e baleada Aylen não morreria.
- Pega eu piranha – provou Aylen.
A mulher veio correndo em sua direção, a arma estava na sua cintura, e as mãos vazias, ao chegar perto de Aylen, Kananda levou um soco de direita no rosto e caiu batendo a cabeça no banco de madeira, quebrando seu pescoço e matando-a.
- Agora sim você conhecerá Jesus.
Marien pegou a arma e carregou. Nisso uma horda de freiras cegas entravam no saguão, inclusive Alice com seu filho e o padre de prisioneiro.

- Uma, duas, três, seis, oito, nove,onze – contava Aylen quantas freiras tinham, e mesmo com um mira perfeita só conseguiria matar seis delas.
- Este herege está queimando nosso santuário - começou Alice – Agora devemos sacrificá-lo para o nosso deus, e seu filho, que dá o ar de sua presença conosco – e ergueu o pequeno Ângelo mostrando-o.
O padre conseguiu colocar fogo em uma parte do convento e a fumaça estava nos céus era uma questão de tempo para que viesse ajuda.
Uma freira idosa ensopou o padre com um liquido, Aylen logo deduziu que iriam queimá-lo vivo.
- Você também será sacrificada – falou Alice para Aylen.
- Pode até ser, mas eu vou dar um pouco de trabalho – sua mira foi precisa e uma bala atravessou a cabeçada freira idosa que jogara o liquido no padre. Alice saiu correndo com seu filho nos braços, e mais cinco balas cortaram o silencio da igreja. Havia mais três freiras mortas, seus tiros não foram perfeitos, outras seis freiras correram armadas com facas e tesouras em sua direção, não havendo tempo para recarregar a arma, Aylen usou suas técnicas de defesa pessoal que havia aprendido. Segurou a mão armada com uma faca de uma freira e enfiou na barriga de outra que estava com uma tesoura. Ela se armou com as armas das freiras, e com uma faca na mão direita e uma tesoura na esquerda matou as outras freiras.
Logo depois Aylen caiu de joelhos, havia uma tesoura fincada em suas costas, onde provavelmente lhe perfurara o seu rim, mas por causa dos efeitos das drogas ela não sentia nada.
O padre andou em sua direção a amiga para lhe socorrer, mas as suas costas uma jovem freira se agachou no rastro de álcool que o padre fizeram ao andou e acendeu um isqueiro, o fogo percorreu o caminho muito rápido e queimou o padre, que gritava e se tentava se livrar de suas roupas, não demorou muito para que ele caísse sem gritos e em chamas a poucos metros de Aylen.
Aylen soltou um grito de fúria e correu em direção a freira que continuava agachada, e acertou-lhe um chute na cara, fazendo a freira cair morta.
Seu desespero era tanto que nem reparou nas sirenes chegando, ela carregou a arma com as ultimas três balas, e tinha que matar Alice e seu filho Ângelo.

Aylen estava perdendo muito sangue, seu sentimento de imortalidade estava passando, ela se sentia fraca, e por mais vontade que sentisse de cair e ficar lá deitada, sua sede por vingança era maior, e com muita dificuldade caminhava até o pátio onde se dividia a igreja do convento por um lindo jardim.
Alice estava no centro do pátio ao lado de uma arvore com seu filho nos braços, às suas costas o convento ardia em chamas, Aylen que estava de frente na porta dos fundos da igreja olhava de frente para a mulher que causara tudo isso. O calor estava insuportável e Alice fazia de tudo para proteger seu filho.
A arma de Aylen estava mirada para Alice, e em passos pequenos contornava a freira que não se movia.
Bombeiros e policiais começaram a surgir pela porta do fundos da igreja, os policiais logo apontaram suas armas para Aylen, todos tentavam acalmar a mulher armada.
- Solte a arma, se renda, você está cercada – ordenou o capitão dos policiais.
- Não! Vocês não entendem, ela é a vilã da história!
- Largue a arma agora – repetiu o homem, então Maurien notou que alguns policiais às suas costas se aproximavam cautelosamente.
A garota rebelde de cabelos cor-de-rosa lembrou de tudo o fizera durante sua vida, percebendo esses sentimentos, muitos relacionados ao rancor da garota, Alice virou-se e ficou de frente com Aylen. Então Aylen respirou fundo...
- Foda-se – disse a garota para si mesma, descarregando as ultimas três balas da arma na freira, que conseguiu proteger seu filho virando-se. A rajada de balas dos policiais nem foi sentida por Aylen, que já estava morta antes de chegar ao chão.

Não houveram sobreviventes no Convento de São Gabriel, as que não estavam na igreja foram consumidas pelo fogo que demorou alguma horas para ser controlado, o bebê de Alice, Ângelo, nada sofreu, apenas algumas escoriações bem leves, ele foi levado por uma policial até uma ambulância, onde teve os primeiros cuidados. O enfermeiro que cuidava da criança foi surpreendido por uma mendiga de cabeça baixa que estava do lado de fora da ambulância.
- Desculpe senhora, mas não pode ficar aqui, pode ir para trás da faixa por favor?
A mendiga tentou dizer algo, mas sua voz não saia, logo, o enfermeiro viu um terrível cicatriz que a mulher tinha em seu pescoço, então o home se aproximou da mulher que vestia algumas roupas velhas, roupas que lhe parecia muito um hábito velho.
Ao chegar bem perto da mulher ela levantou a cabeça, mostrando que em seu rosto faltava-lhe os olhos, e uma faca atravessou o peito do enfermeiro.
A mulher pegou o bebê e saiu caminhando, passando entre os curiosos que observavam a ação dos bombeiros, sem ser notada. Seu nome era Camila, e a última freira cega.

Para Jéssika, Kananda, Maurien, Te, Grégory e Apolonio


sábado, 2 de maio de 2009

As freiras cegas de Cali - Parte III

Um ano se passara desde que Matheus e Alice fugiram do convento em Cali, passaram por grande sufoco, e hoje estavam vivos, Alice estava cega e tinha pesadelos todos os dias. Matheus estava ileso, pelo menos fisicamente, ele ainda sofria com o pesadelo do ano anterior. As chamas levaram todo e qualquer vestígio da seita que havia no convento, tudo não se passava agora apenas de más lembranças. Pelo menos é o que achavam Alice e Matheus.
Alice se mudará com sua família para uma chácara, onde a garota tinha mais afinidade para se adaptar, com um contato constante com a natureza, Alice tinha apurado seus sentidos, conseguia andar sozinha pelas ruas depois de seis meses. Logo que voltaram de Cali, seus pais já providenciaram um local de repouso, onde tinham se acostumado e ficado por lá. Na casa vivia Alice, sua mãe Sandra, seu pai Roberto e a enfermeira Joseane.
Os pais de Matheus moravam a poucos quarteirões da nova residência de Alice, e os dois se encontravam todos os dias.

A tarde caia e a noite vinha surgindo no inverno daquele ano e Alice, caminhava sozinha guiada apenas por sua bengala, havia três meses que ela caminhava sozinha, havia aprendido o caminho, seus pais a deixavam livre, assim ela se sentia mais normal. A caminhada fora breve este dia, estava frio, e ela sentia que algo ruim poderia acontecer.


Dois sujeitos cercaram Alice, ela ouviu os passos vindos da estrada de terra.
- Se não preocupe doçura, você não verá nada.
Os dois homens levaram Alice para dentro da mata onde a despiram ferozmente, e a estupraram até saciarem todos os seus desejos pela carne, mas uma coisa eles não contavam, que era a reação de Alice.
Alice saiu do meio da mata pouco tempo depois, estava em choque, caminhou até a sua casa, estava coberta de sangue e mancava um pouco, foi a pior meia hora de sua vida desde que escapara do convento em Cali. Atravessou o gramado que tinha em frente a sua casa, MS ao chegar na metade caiu de joelhos, mexeu na terra durante algum tempo, e novamente se levantou. Sua mãe a avistou da janela e correra ao seu encontro, sua filha estava em péssimo estado.
- O que aconteceu minha filha? – perguntou a mãe desesperada.
Alice demorou a falar sua voz não saia, não conseguia raciocinar, algo estranho estava acontecendo com ela, algo que ela nunca tinha sentido antes.
- Fui estuprada...
- Ai minha filha vamos ao hospital agora, cadê a merda do seu pai numa hora dessas?
Era domingo, e as duas estavam sozinhas, era a folga de Joseane, e seu pai tinha compromissos, era uma grande advogado.
Alice não sentia nada, apenas um vazio dentro dela. Sua mãe estava desesperada, mal conseguia dirigir. A noite foi longa no hospital e a partir disso tudo seria diferente.

Joseane chegara na manhã para seu trabalho na chácara da família de Alice, mas estava tudo fechado, não havia ninguém lá dentro. Um vizinho da família caminhava pelas ruas de terra, o homem tinha pouca idade, mas os cabelos começavam a lhe faltar, estava sem camisa, e mostrava um peito peludo.
- Desculpe senhor, mas sabe onde eles foram? – abordou Joseane.
- Não ficou sabendo? Alice foi estuprada ontem enquanto caminhava pelas redondezas. Você passou por um bando de carros policiais e ambulâncias não? – falou Caio.
- Sim eu passei, Alice estava ali com eles, eu volto lá agora.
- Não, não. Ela não estava naquele furdunço, encontraram os estupradores ali, mortos. – enquanto falava coçava seu cabelo e Joseane não podia deixar de notar seu peito suado. - Eles foram encontrados essa manhã, e estavam sem os olhos, seja lá o que mataram foi algo muito violento.
- Sabe onde estão?
- Devem estar no hospital municipal.
- Obrigada – disse Joseane montando em sua moto e partindo em direção ao centro da cidade onde ficava o hospital.


Matheus , os pais de Alice e alguns policiais estavam na sala de espera do hospital, todos fitaram Joseane chegar e caminhar em direção a eles.
- Ela está bem? – perguntou Joseane.
Por um instante todos ficaram quietos e não responderam. Joseane, inevitavelmente, pensou no pior diante da reação de todos. Matheus se levantou e levou a enfermeira a um canto mais distante e mais vazio para poderem conversar.
- Ela está em choque ainda – um silêncio – Mas agora está sendo interrogada pela polícia, encontraram os estupradores mortos e...
- Sem os olhos – completou Joseane.
- Mesmo que ela tenha os matado, o que acho com certeza que o fez, não será incriminada, pois será caracterizado como legítima defesa – um suspiro – O problema é que ela não se lembra do que houve ontem.
- Foi o choque que sofreu...
- Ela vai ficar internada sob observação um tempo e depois voltará para casa.
- Eu ficarei aqui, quero vela como está.
Joseane e Alice estudaram juntas no colegial, e desde então eram grandes amigas, Joseane se ofereceu para cuidar da amiga, já que estava sem emprego, pois o hospital em que trabalhava havia fechado as portas definitivamente. Resolvera então ser uma enfermeira autônoma. Matheus voltara a trabalhar em uma empresa do ramo de distribuição de energia, conseguira um bom cargo e seu salário era razoável, mas seus problemas psicológicos algumas vezes ficava distraído.
- Tenho que ir trabalhar, eu passo a noite aqui de volta – falou Matheus à mãe de Alice que chorava ainda, estava nervosa. Ela confirmou com a cabeça, e Matheus saiu.
A polícia pegou o depoimento de Alice e saíram do hospital deixando a menina conversa com a família e depois repousaria. A noite não tardou a chegar e todos se viram mergulhados nas trevas.O pai de Alice, Roberto, havia saído para tomar banho e depois voltaria ao hospital enquanto sua mãe continuara, iria depois que o marido chegasse.
Sandra estava com os braços apoiados nos braços de um sofá, segurando a cabeça quando um enfermeiro surgiu a sua frente, a mãe de Alice fitou seus pés com aqueles sapatos brancos, que logo depois falar:
- Senhora? Nós temos um problema, a sua filha sumiu.

Um carro com três jovens andava em alta velocidade pelas estradas de terra na região onde situava a chácara de Alice, tinham acabado de voltar de uma rave, e todos estavam ainda sob os efeitos de drogas da noite anterior. Diego, um garoto de feições leves e muito bonito, conduzia o Honda Civic preto, ao seu lado uma garota de aspecto tenebroso, cabelos lisos até o pescoço com varias tatuagens espalhadas pelo corpo, olhava fixamente para o caminho a sua frente, em seguida virou cabeça de vagar e falou para Diego:
- Espero que saiba mesmo sair desse monte de mato – sua voz era cansada e levemente rancorosa.
No banco de trás Daiane, a namorada de Diego, uma morena escultural, gemeu alguma coisa, fazendo os dois companheiros olharem para trás, e Diego começou a responder:
- É claro que eu sei sua... – um vulto atravessou a frente do carro, fazendo com que Diego perdesse o controle do carro e capotasse diversas vezes até parar de ponta cabeça em um barranco.
Os dois estavam desmaiados ao volante. O vulto que entrara na frente do carro era Alice, que agora caminhava em direção as ferragens. No banco de trás do carro Daiane começava a recobrar a consciência, seus longos cabelos estavam visíveis no lado de fora do carro. Alice pegou Daiane pelos cabelo e a arrastou para fora do carro, ela urrava de dor quando suas costas se cortaram nos cacos de vidros espalhados pelo chão.
Diego e Fernanda acordaram com os gritos, mas não podiam fazer nada estavam presos nas ferragens, a última coisa q viram foi a amiga ser puxada para dentro da mata do outro lado da estrada de terra. Era possível ouvir os seus gritos por algum tempo e depois cessou-se.
- Precisamos sair daqui antes que aquela porra volte - falava Fernanda desesperada.
Depois de algum tempo eles conseguiram sair de dentro do carro, ainda que muito machucados.
Diego pegou uma barra de ferro se soltara do carro e caminhara até a orla da mata.
- Vou procurá-la, procure ajuda! – ordenou a Fernanda.
- Não, eu vou com você.
E os dois entraram cautelosos, entre as arvores. Tudo estava silencioso, exceto pelos pássaros. O sol do meio-dia estava quente, e não havia nenhuma pista das duas, exceto por um poça de sangue. Fernanda examinava a poça de sangue, enquanto Diego estava mais a frente, a procura de uma trilha onde seu agressor poderia ter fugido. Por trás de Fernanda caminhava alguém, não identificável pelas sombras das arvores. Diego estava longe agora de Fernanda. De subido a garota de tatuagens olhou para trás e viu Daiane sem os olhos, escorrendo sangue dos orifícios oculares pelo rosto.
- Meu Deus... – sussurrou
E uma barra de ferro pontiaguda lhe atravessou o peito. Ela foi atingida pelas costas por Alice, não teve tempo para gritar, Fernanda caiu, morta.
- Fer, eu não achei nada.... – as palavras não saiam mais de sua boca, Fernanda estava morta, pelo que ele podia ver, ela estava sem os olhos, ele apenas corre de volta para a estrada.
Diego corria pela estrada, via ao longe um carro vindo em sua direção, era sua única chance de sobrevivência, foi quando ele viu Daiane, sem os olhos na beira da estrada com uma pedra na mão, mesmo cega ela atirou a pedra que lhe acertou em cheio na cabeça, ele sentiu o sangue escorre pelo seu rosto em seguida caiu. Daiane ia avançar sobre o corpo mas recuou, o carro estava perto.

Matheus dirigia seu carro, em direção a sua casa, esquecera um projeto, e voltava para buscá-lo. No caminho se deparou com um acidente, um carro capotado e homem que parecia ter a mesma idade, caído no chão a alguns metros das ferragens. Matheus foi socorrer o rapaz, ele respirava, só estava desmaiado, hipnoticamente Matheus ficou observando aquele estranho por algum tempo. Levou o rapaz até carro e o levou para o hospital. Em seguida ligou para alguém da empresa e pediu que buscasse o projeto em sua casa pois um ente querido havia sido internado, mentira, e não sabia o porquê.
No hospital não havia mais ninguém da família de Alice, soubera por um enfermeiro que a paciente fugira e todos estavam atrás dela.
Eram quase quatro horas da tarde quando Sandra voltara a sua casa, para ver se a filha tinha voltado para casa, seu marido não atendia mais as ligações, nem no celular nem no telefone fixo, o carro dele se encontrava estacionado na frente da casa. Sandra entrou ligeira em casa, pronta para explodir sua raiva com o marido.
- A sua filha foi estuprada e agora ela fugiu do hospital e você nem pra dar apoio para sua família? Vira homem seu bosta.
Ela ouvia o chuveiro ligado e foi em direção ao banheiro.
- Quantos banhos você já tomou hoje, você veio de manhã para cá, seu filho da puta – ela abriu a porta num baque, suas pernas estremeceram ao olhar dentro do banheiro, seu marido estava degolado, com água do chuveiro lavando seu cadáver. Sandra soltou um grito de terror que ecoou por toda casa.
Entrava agora pela porta da suíte Alice, ainda vestida com uma túnica negra.
- Ah minha filhinha, venha aqui com a mamãe – suas lágrimas cortavam seu rosto, e estendeu os braços para um acolhedor abraço de sua filha.
Em vez disso, um facão atravessou seu crânio.

Poucos minutos depois uma moto entrava na chácara onde Sandra acabara de ser assassinada pela filha. Joseane, entrara na casa sem cerimônias, na mesa de jantar que ficava em frente a porta principal de entrada estava Alice, sentada de frente para porta, que estava aberta.
- Lice, não dá um susto desses na gente, ficamos todos preocupados – ao passar pela porta, Joseane não notara Daiane atrás da porta com uma pesada panela nas mãos, segurando pelo cabo.
A enfermeira de Alice caminhava em sua direção e se assustou quando a porta de entrada bateu, ao olhar se deparou com uma morena sem os olhos, a partir dá ela não pode pensar em mais nada, foi golpeada pela panela e caiu desfalecida no chão. Seus olhos foram arrancados de sua face.
Tudo aconteceu tão rápido que parecia uma tempestade de verão, mas o dia parecia resistir as tragédias com sua beleza inabalável

Três horas depois Diego acordava, ao seu lado um rosto desconhecido, do qual ficou encarando, não sabia por quê.
- Desculpe-me mas quem é você? – perguntou Diego com sua voz doce e suave.
- Eu lhe encontrei caído na estrada e te trouxe ao hospital.
O pânico tomara conta do rosto de Diego, ele havia esquecido do que havia acontecido, mas agora tudo voltava a tona em sua cabeça.
- Olhos – sibilou – não tinha olhos.
Matheus ligou os pontos, aquilo nunca passara em sua cabeça antes, Alice estava matando as pessoas, ela estava agindo como as freiras de Cali que conhecera um ano atrás, elas lhe tiraram os olhos, mas não terminaram o ritual para que ela fosse possuída por um demônio. Depois de ser estuprada sua alma foi corrompida deixando que o demônio possuísse seu corpo e eliminasse sua alma. Aquela mulher não era mais sua amiga Alice, aquela, era o legado das freias de Cali.
Não podia ficar parado, tinha que fazer alguma coisa.
- Foi minha namorada – guinchou Diego – Ela me atacou.
- Ela tinha não olhos também certo?
- Não
- Bom... meu nome é Matheus – em seguida lhe contou toda a história desde de Cali até suas últimas descobertas.

A noite lá fora mostrava uma lua cheia que há tempos não se via. Matheus tomou fôlego depois de contar todas história para Diego, em seguida se levantou e caminhou até a saída, onde ficou parado a porta com Diego lhe observando.
- Eu esqueci de te avisar, seus pais estão vindo – Matheus saiu do quarto e não voltou mais.

Seus planos era encontrar Alice e terminar de uma vez por todas com esse inferno, decidiu que não chamaria a polícia, seria inútil e mesmo que a pegassem o máximo que iam fazer com ela era prendê-la, e numa cadeia feminina, em pouco tempo todas as mulheres seriam recrutadas para aquele serem hospedeiras de demônios. Sua decisão era simples, matá-la.
A polícia já estava na procura do autor dos crimes bárbaros da ultimas horas, Matheus só tinha que encontrar Alice antes.
Ao chegar na residência de Alice, Matheus notou que os carros dos pais de Alice estavam lá parados e a casa estava mergulhada na escuridão, foi entrando devagar com o carro e alguém atacou a janela do carro, era Daiane, ela estava com uma marreta, Matheus acelerou o carro mas bateu em uma das arvores que tinha na frente da casa. Matheus olhou no retrovisor que sua agressora estava andando em sua direção, e estava atrás do carro, rapidamente ele ligou o carro e deu ré em cima da cega, com toda a velocidade possível, em seguida, colocou o carro na segunda marcha e avançou sobre a mulher que se recuperava do impacto, passando com o carro novamente por cima dela.
Matheus respirou e passou por cima do corpo mais três vezes. Daiane jazia morta sob o carro de Matheus.
Na casa não havia rastro de Alice ou qualquer uma outra que a tivesse ajudando agora, só havia os corpos sem vidas de Sandra e seu marido. Matheus notara que a moto de Joseane estava parada lá fora, e deduzira que ela também fora possuída.
Um grito de horror na chácara vizinha. Em um lugar calmo como aquele só podia ser uma coisa, Alice. Matheus pegou uma faca na cozinha e correu para a chácara vizinha, atravessando a cerca de arame farpado. Um rastro de sangue iluminado pelo luar ia até o fundo da casa, que ao seguir Matheus viu Caio morto e sem os olhos. Joseane sorrateiramente foi chegando atrás de Matheus, e lhe fincou uma faca nas costas, no reflexo, ele virou um soco na cara de Joseane que quebrou seu nariz, ele tateou o chão sombrio em busca de que poderia se defender, ele encontrou uma marreta, que estava nas mãos do homem morto, e quando a cega voltou a lhe atacar, uma marretada foi suficiente para levar a mulher ao óbito.
Agora faltava só Alice, se ela não tivesse transformado mais ninguém... Mas Matheus não sabia como matar a amiga, uma amiga de tanto tempo, como poderia fazer isso? Ele tirou a faca que estava encravada em suas costas que doía muito.
Sem forças ele voltou devagar para seu carro, ele precisava de ajuda, ia pegar o carro, chamar a policia e ir ao hospital, esquecera o celular no porta luvas do carro. O celular estava fora de área, ele dirigiu, por cima de Daiane mais uma vez, e sai da chácara em direção ao hospital.
Em sua fuga de volta para o hospital, para tentar salvar mais uma vida, a de Diego, ele sentia que Alice tentaria matar qualquer um que já tivera contato com ela antes. Matheus ouviu uma leve respiração, notara que Alice estava escondida no banco de trás do carro, provavelmente iria matá-lo. Não conseguia pensar e o sangue escorria por suas costas. Ele se lembrou de suas aulas de história quando era jovem. A segunda guerra mundial, e os japoneses kamikazes. Naquele momento ele decidiu que os dois iriam morrer juntos.
Os motores se aqueceram, sua velocidade triplicou, e a longa estrada de terra fazia o carro dar alguns solavancos, o carro em alta velocidade era a única coisa que cortava a noite fria e silenciosa.
- Eu sei que você está ai – Falou Matheus em alto e bom tom – E vou matar nós dois.
Alice levantou em um berro empunhando um facão, no mesmo Matheus jogou o carro de um barrando de mais de dez metros de altura, abaixo havia uma rodovia, o carro capotou várias vezes ao cair do barranco, até ficar parado de ponta cabeça na via principal da estrada. Matheus muito machucado e preso pelo sinto de segurança abriu os olhos com dificuldades uma luz tomou conta de seus olhos, que cada vez chegava mais perto. Um caminhão em alta velocidade arrastou o carro por mais de cem metros até se desviar para o acostamento, um rastro de sangue na estrada. Pouco tempo depois o resgate chegou.

No dia seguinte todos os jornais da região tinham o acidente como manchete, pela sua gravidade e por que houve sobreviventes, uma jovem mulher cega. Ela estava entre a vida e a morte no hospital mas estava viva e tinha rápida melhora.

Dois dias se passaram do acidente, Diego estava prestes a ter alta, era duas da manhã quando acordou no meio da noite, alguém entrara em seu quarto, devia ser uma enfermeira, pensou ele, ledo engano. A mulher que entrara em seu quarto estava machucada, cheia de ataduras, era cega e ele sabia quem era, antes que pudesse chamar ajudar, um bisturi atravessou seu peito. Ela queria tirar seus olhos, mas conteve seus instintos assassinos, se tirasse seus olhos ia parecer suspeito, mesmo estando na UTI.
Deixou o corpo e voltou para sua maca, no instante em que deitou algumas enfermeiras acompanhado de um médico entraram na sala, pois como os aparelhos haviam parado de mandar informações correram para ver o que havia ocorrido. Eles viram apenas uma mulher cega, que estava se sentindo bem e por alguns movimentos bruscos havia desconectado os aparelhos de seu corpo.

Alice passou por vários exames, e foi liberada, como uma inocente mulher que teve muita sorte na vida, e que queria retribuir essa graça divina virando freira, onde foi convidada a se instalar em um convento na capital. Matheus foi acusado de todos os crimes cometidos na região aquele dia, considerado uma espécie de raiva contra Alice. E a morte de Diego foi considerada suicídio.

Alice se tornou freira no convento de São Gabriel na cidade de São Paulo, pouco tempo depois descobriu-se que ela estava grávida e foi decidido que ela teria o filho. O seu estupro lhe gerou um filho, e o seu filho nasceria com a alma de um demônio.

Para Jéssica, Allan, Caro, Diego, Caio, Mel e Daya

sábado, 7 de março de 2009

As freiras cegas de Cali - Parte II

O sol ainda não havia nascido quando o trem cargueiro passou pela cidade de Cali, na Colômbia. O trem abria caminho na escuridão em que a cidade se encontrava, e no último vagão transportava clandestinos. Tratava-se de aventureiros brasileiros, que trilhavam seus caminhos conforme o que lhes viessem na cabeça.
Haviam partido do porto de Buenaventura, mas antes estiverem em quase todos os países da América Latina, fazendo um tour pelo continente.
- Vamos saltar logo em frente – falou uma garota magra, de cabelos negros, lisos e longos, seus olhos eram verdes e de boca pequena, seu nome era Alice.



Todos se preparam pegando seus pertences, uma garota negra que cochilava, foi acordada por seu amigo, um garoto de média estatura, cabelo curto e bem enrolado e ligeiramente acima do peso.
- Acorda Charlene, já vamos descer – falou Matheus, o garoto que a acordara.
- Mas ainda ta longe da próxima estação – retrucou Charlene, com voz de sono e ligeiramente de mau humor.
- Eu sei... Mas vamos pular.
- De novo não, dá última vez eu desci rolando um penhasco até um lamaçal.
- Será que daremos sorte dessa vez de novo então? – falou um garoto alto, loiro de cabelo raspado e óculos de aros grossos pretos – Foi engraçado.
Uma garota corpo escultural, cabelos negros e de óculos abafou uma risadinha, seu nome era Luana.
- Vai com calma Samuel, o dia nem nasceu e você já está destilando veneno – alertou Matheus.
Ao passarem por um terreno gramado todos pularam, um de cada vez. E o trem continuou sua jornada. Caminharam até chegarem mais ao centro da cidade, para se reabastecerem de comida, água e remédios, já estavam a algum tempo se divertindo por trilhas na América do Sul. Terminaram a faculdade e durante o período de estudo trabalharam e juntaram dinheiro para essa viagem, estavam fora a seis meses, e ainda lhes restavam dinheiro para mais uns dois meses, onde voltariam a suas vidas normais.
- Para onde vamos depois? - perguntou Luana
- Vamos subir a Cordilheira Central dos Andes, é um caminho bem light, onde tem uma vila e várias construções renascentistas, vai ser divertido – respondeu Alice.
- E como sabe disso tudo? – perguntou Charlene
- Google. Chequei meus e-mails em Buenaventura, e aproveitei para ver o que tinha de bom em Cali.
- Achei que definiríamos o roteiro juntos – sibilou Matheus
- Ai gente desculpa, desculpa mesmo, é que achei que iriam gostar – falou Alice arrependida.
- Quem disse que a gente não gostou? – perguntou Matheus para Alice sorrindo
E todos concordaram em seguir para a Cordilheira, o que eles não sabiam era que Alice tinha um segredo, sua prima Camila, havia desaparecido naquela região há um mês atrás e foi investigar o que havia acontecido.
- Você vai deixar isso na cintura em plena cidade? – perguntou Luana para Samuel, que carregava uma arma no cós de seu jeans. – Coloca na mochila antes que a polícia nos pare e vamos presos.
Samuel comprara a arma para a viagem, a maioria das vezes que a usara era para diversão apenas, usara poucas vezes para própria defesa, na floresta amazônica usou para se defender de um lobo, mas sempre que empunhava a arma, ele se sentia último a dar a palavra.
O sol brilhava no céu de Cali, já eram dez horas da manhã e o grupo de aventureiros se deslocava até o seu destino, a encosta da Cordilheira Central dos Andes, onde fariam mais uma de suas aventuras. Haviam passado um grande sufoco no primeiro mês de viagem na floresta amazônica, mas decidiram deixar isso de lado, não era contratempo que iria acabar com toda a diversão.


Já estavam a mais de duas horas passando pelas trilhas da Cordilheira, estavam indo devagar e estavam cercados pela mata todo o tempo. As trilhas eram grandes, onde carros podiam circular facilmente. O céu começara a escurecer, uma tempestade estava à caminho, e o grupo estava longe da cidade, a última vila que virão estava quarenta e cinco minutos atrás deles.
- Vamos voltar, a tempestade vai ser forte, tem uma vila pode chegar lá – falou Luana
- Não, esperem, tem alguma coisa ali, uma construção renascentista – falou Matheus apontando para uma mancha cinza a meio a vegetação – vamos para lá!
O céu começou a desabar sobre eles, uma chuva fria com ventos uivantes faziam a floresta ficar macabra. Estava tão escuro como se fosse noite, e a pequena trilha que os levavam a construção tinha uma correnteza de lama, ao chegarem o portão estava fechado, mas ao empurrarem ele abriu.
Não se via um palmo à frente do nariz, e na direção da edificação viam-se luzes, então alguém morava lá. Ao se abrigarem na área coberta da construção uma freira trouxe várias toalhas secas e brancas para se secarem, todos ficaram assustados com o que viam, a freira não tinha olhos. A freira era muito magra e seu rosto tinha um traço oriental.
- Se sequem – falou em português – Antes que adoeçam, eu sou a irmã Rebeca, sintam-se a vontade por favor.
O lugar em que estavam era um convento onde todas as freiras eram cegas. Aos poucos todas elas foram aparecendo para saudar seus mais novos visitantes. Da ultima vez que visitantes estiveram ali, foi há um mês, uma equipe de televisão. Foram todos acolhidos para dentro do convento onde tomaram uma sopa quente para se esquentarem e de sobremesa algo que nunca haviam visto, pêssegos albinos.
- Bom meus caros, creio que vão dormir entre nós está noite, meu nome é irmã Joanna – disse uma freira que se sentava a ponta da mesa, a única que usava óculos de sol, notava-se um ligeiro sotaque espanhol – é que temos algumas regras. Rapazes e moças terão que dormir em quartos separados, os rapazes lá no porão e as moças junto das outras irmãs. Depois das nove todos dormindo, acordamos às cinco e meia da manhã, portanto, quero que se adéqüem a isso.
- Sem problemas, nós seguiremos suas regras irmã, amanhã cedo partiremos. – argumentou Matheus com a irmã – mas se a chuva parar logo vamos embora hoje mesmo, não precisam se preocupar.
- Não seja tolo, a tempestade vai demorar a passar e mesmo que passe o caminho ficará intransitável, fiquem conosco até amanhã cedo, não irão se arrepender.
Os trovões caiam aos montes naquele região iluminando os corredores do convento de tempo em tempo. Ao fim do jantar todos resolveram passar a noite, afinal o que freiras cegas poderiam fazer contra eles?
Todos, inclusive as freiras, descansavam em um salão muito aconchegante rodeados de poltronas.
- Por que será que são todas cegas? – perguntou Alice à Matheus com quem estava dividindo um sofá, em um quase sussurro.
- Acho que a igreja manda todas as freiras cegas para cá, ou devem ter feito algum tipo de promessa.
- Mas não é estranho que não haja ninguém enxergando tomando conta delas?
- Realmente, bom... talvez seja algum tipo de penitência.
- Talvez – fez-se uma longa pausa,e então Alice voltou a falar – Eu menti, vim pra cá porque uma prima minha, repórter, sumiu fazendo uma reportagem aqui neste convento, a polícia chegou até vir aqui, mas não encontraram nada, acho que os traficantes da cidade, que usam esse bosque de esconderijo devem ter raptado ela.
- Por que não avisou ninguém desse seu plano? – perguntou Matheus mantendo a voz baixa – Poderíamos ter nos preparado para encontrar algum tipo de pista. Mas e se forem os traficantes? Vamos pedir para eles nos seqüestrarem também? – estava ligeiramente irritado, e o salão era iluminado por poucas velas, mantendo em um grande escuridão, as freiras eram cegas e não tinham noção de quantas velas eram necessárias, havia uma para cada convidado.
- Não contei para não ficarem bravos comigo, e quanto a minha prima, só quero saber se está viva ou morta, é difícil ficar na dúvida, na angustia e esperar por algo que não vai vir.
A conversa não se prolongou mais, e pouco tempo depois todos se recolheram aos seus aposentos, e logo dormiram. Charlene custou a dormir, não conseguia esquecer o sabor daquela fruta que provara no jantar, eram os pêssegos mais doces que comera em toda a vida, depois de algum tempo em sua cama, com lençóis limpos e cheirosos ela se levantou, acendeu sua vela com o isqueiro, e desceu até a cozinha, queria mais um pêssego.

A tempestade foi a mais violenta nos últimos vinte e nove anos na região, parecia que os relâmpagos cortavam o céu mais do que a chuva, iluminando várias vezes o convento, não deixando os visitantes dormir. Na manhã seguinte o dia amanhecia quando o grupo se levantou carregando sua bagagem para baixo onde tomariam o café da manhã e partiriam, o céu estava cinza, deixando tudo muito sombrio. Ao chegarem no refeitório, estava vazio, nem uma irmã estava lá.
- Gente cadê a Charlene? Deve ta dormindo, Luana chama ela lá, por favor? – pediu Matheus à Luana
- Claro, Lice você vem comigo? – e as duas garotas subiram aos aposentos das freiras.
Matheus e Samuel esperaram cinco minutos até as garotas voltarem.
- Ela não está aqui – avisou Alice do alto da escada.
- Eu vou procurá-la no porão já volto. – disse Samuel, e Matheus foi verificar se as irmãs estavam lá fora, junto dos pessegueiros.
Samuel desceu as escadas, o porão era escuro e úmido, mas dava-se para enxergar bem. A sua frente abriu-se uma porta onde sorrateiramente saiu Charlene, a bela garota negra que os acompanhava estava vestida com um hábito, e nos olhos uma venda branca.
- Que isso resolveu virar Whoopy Goldberg? Só por favor, não cante. – falou Samuel para a amiga que parecia não prestar atenção.
Conforme Charlene caminhava em sua direção mais freiras começavam a sair daquela sala, todas cegas. Samuel sentiu algo estranho apalpou sua cintura à procura de sua arma, mas tinha colocado na mochila a pedido de Alice, estava andando devagar para trás e sentia que estava suando frio. Ao se virar de costas paras as freiras para correr, Charlene pulou em suas costas derrubando-o, que caiu batendo a cabeça no primeiro degrau da escada e quebrando o pescoço. Não teve tempo nem de gritar.

Um leve nevoeiro cobria a paisagem da cordilheira naquela manhã, Matheus caminhava no extenso terreno que havia a frente do convento, e então percebeu que vários corvos estavam pousados sobre os pessegueiros, um cheiro horrível foi sentido, em seguida notara que urubus caminhavam nas raízes das árvores, ao se aproximar mais viu algo que lhe checou, levou a mão ao rosto e gritou desesperadamente:
- Lice, Lu, Samu, venham aqui rápido, corram é urgente. – não conseguia controlar o pânico à sua frente estava a cabeça de uma mulher, de cabelos negros, que pareciam vir até os ombros, ela estava sem os olhos.
Alice e Luana chegaram correndo.
- Não encontramos a Charlene - disse Alice
A voz de Matheus não saiu, ele apenas apontou ao eu havia encontrado. Por alguns segundos todos ficaram parados atônitos no que viam, em seguida Alice caiu de joelhos e começou a chorar.
- O que foi Lice? – perguntou Luana
- É a minha prima, repórter, eu quis vir para essa região para ver se a encontrava. – disse soluçando, não conseguia controlar suas lágrimas.
- Vamos temos que sair aqui – disse Matheus puxando Alice pelo braço em direção ao portão. Tentaram de todas as formas abri-lo mas estava trancado. – Lu, vai procurar o Samu, eu e a Lice vamos procurar a chave dessa merda.
- Ta bom
- E tome cuidado.
Luana entrou correndo em direção ao convento, Matheus puxava Alice que estava em choque, ao passarem pelas mochilas que estavam juntas perto da porta de entrada, Alice se livrou do braço de Matheus e começou a mexer na mochila de Samuel, da onde tirou o resolver e guardou no cós de seu jeans.
- Essa gente é perigosa, melhor estarmos preparados. – falou Alice tomando frente ao subir as escadas, estavam se dirigindo à sala da madre superiora, onde provavelmente a chave estaria guardada.


Luana desceu ao porão escuro, não havia nada por lá, e ela chamava por Samuel sussurrando por medo de que alguma freira a ouvisse e a capturasse. Ao olhar de relance para escada notou uma mancha de sangue, e foi se aproximando para averiguar, o sangue era fresco.
Por trás de Luana surgia uma figura que estava escondida nas sombras, uma pessoa que já havia passado por aquele pesadelo anteriormente, pelo menos o corpo passara por tal aprovação. A ex-responsável pela sonoplastia da equipe de televisão, agora conhecida como irmã Rebeca, parecia fitar Luana analisar o sangue da escada, e em sua mão havia um pano umidificado em clorofórmio, Luana se levantou e foi surpreendida pela irmã Rebeca, depois de poucos segundos ela estava inconsciente.

Alice e Matheus abriram a porta da sala da madre superiora bem devagar, fazendo com que a porta sem trinco rangesse muito.
- Acho que já descobriram nosso maior segredo não? – falou irmã Joana que estava sentada em uma cadeira de escritório de costas para a porta de entrada, ela se virou e encarou-os com seus óculos de sol redondos – Eu sou uma sacerdotisa – e tirou os óculos, ela tinha lindos olhos azuis que lembravam o oceano – O inferno é aqui, então estamos providenciando para que fique igualzinho, importamos demônios condenados, e o deixamos em corpos femininos que são os únicos dos quais eles se adaptam.
Alice apontou a arma para a madre e falou:
- Me dê a chave do portão se não seu cérebro vai cobrir esse lindo escritório – e destravou a arma.
- Você não pode matar todas nós – Irmã Joana riu – A vida pode matar os demônios, curioso não? Enquanto houver um ser vivo aqui não poderemos caminhar livremente pelo planeta, precisaremos de corpos femininos para fazer isso.
- Me dê a chave! Não estou brincando.
Uma freira chegava devagar por trás de Alice e Matheus, não fazia o menor barulho, atrás dela vinham mais três freiras igualmente silenciosas.
- A alma delas enxergam!
Ao terminar a frase uma freira pulou em cima de Alice e outra em cima Matheus, as outras chegaram e ajudaram a segurar eles contra o chão.
- Vamos! Levem a garota ao templo. Irmã Alberta e irmã Anita, acabem com este daí - pegou a arma de Alice que estava no chão e a levou consigo, enquanto as outras duas freiras arrastavam Alice até o porão.

Matheus estava preso entre duas freiras, irmã Alberta pegou uma faca e ergueu até acima da cabeça, a freira que o prendia estava de quatro segurando seus braços com as mãos, e suas pernas estavam sobre as de Matheus, no instinto Matheus deu uma cabeçada no nariz da irmã que quebrou, enquanto a facada que iria receber se enterrava no piso de pedra da sala da madre superiora.
Houve uma briga pela faca, enquanto a irmã Anita tentava conter a hemorragia do nariz, a briga terminou com Matheus fincando a faca no crânio da irmã Alberta, quando conseguiu se levantar Alberta vinha sua direção, ele a empurrou até o grande vitral da sala, a freira atravessou o vidro e caiu três andares abaixo.
Matheus se armou com a faca que estava na cabeça da freira, e desceu até o porão, todo o caminho estava deserto, e ao chegar ao porão apenas uma porta lançava uma luz por baixo, na mesma sala ouvia-se um canto em uma língua estrangeira. Matheus abriu a porta num baque.
Na sala todas as freiras formavam um circulo eu volta de um tacho gigante, onde havia brasas, ao chão estava Alice, sem os olhos. Entre as freiras haviam duas figuras conhecidas: Luana e Charlene, ambas já haviam sido convertidas e já faziam parte da cerimônia de conversão de Alice.
- Peguem-no – ordenou a madre superiora.
As freiras vinham lentamente em direção a Matheus, ele podia correr, mas precisava da chave do portão e salvar sua amiga, conseguia ver a arma na lapela da madre superiora. Em um movimento rápido, Matheus correu entre as freiras, esquivando-se de todas, armado com a faca, ele se jogou em cima da irmã Joana, que sucumbiu o peso de Matheus sobre ao tacho de brasas que tombou, começou um incêndio pelas austeras cortinas que havia no salão e que se repetia por todo o convento. Antes que a freira pudesse pegar a arma, Matheus encravou a faca em seu peito, ali jazia madre superiora, o garoto pegou a arma e as chaves que a freira guardava.
Armado, Matheus atirou nas diversas freiras que chegavam perto, pegou Alice no colo e correu para a saída, ao subir as escadas para o andar principal, Matheus fechou a única porta que levava ao porão, as freiras tentavam abrir e puxavam com muita força, mas a sorte ajudou-o, encontrou a chave e trancou-as lá dentro.
Alice acordou e logo depois veio o seu grito de pavor.
- Estou cega, socorro.
- Eu estou aqui, calma nós vamos sair desse inferno – acalmou-a
Juntos caminharam até o portão, que se abriu, e os dois caminharam entre as trilhas estritas e íngremes que levavam do convento até a trilha principal.
Ao chegarem na trilha principal depois de muito andarem, Matheus constatou que todo o convento estava em chamas agora, e que nenhuma freira poderia mais atormentá-los.
No dia seguinte, a polícia foi verificar o que havia acontecido, encontraram trinta e seis freiras carbonizadas no porão, e mais alguns corpos espalhados pelo convento. No pomar das freiras onde não havia sobrado nenhuma muda dos pessegueiros albinos foram encontrados centenas de corpos, alguns com mais de vinte anos enterrados. Alice estava internada, seus pais estavam a caminho para a levarem de volta, e Matheus ficou o tempo todo ao seu lado.
- Má, você ta ai? – perguntou Alice com a voz fraca
- Estou sempre do seu lado
- E agora? O que vai ser de mim? Não tenho mais razão de viver a visão era tudo, me formei em fotografia, o que vou fazer – ela queria chorar, mas não podia, não tinha mais as glândulas lacrimais.
- Calma, nós voltaremos para casa e tudo vai ficar bem, eu te prometo.

Para Allan, Jéssica, Luana, Samuel, Shirley

sábado, 28 de fevereiro de 2009

As freiras cegas de Cali

Eram dez da manhã quando a equipe de televisão brasileira chegou em Cali para uma reportagem de um convento que ficava aos pés da Cordilheira Central dos Andes, o convento era esquecido no meio do mato, e o convento de San Francisco, o único de conhecimento da igreja naquela região também não confirmava a existência do convento de San Joaquim.
A equipe de reportagem era formada por uma repórter, Camila, de cabelos rebeldes até o ombro, óculos redondos e muito bom humor, seu namorado, Mário, que era o câmera, Rebeca, a responsável pela sonoplastia e iluminação, e Hans, o diretor.
Iriam ficar no Convento de San Joaquim por quatro dias, no primeiro iriam se instalar, no segundo e terceiro fariam as gravações, no quarto dia iriam embora, depois
- Espero mesmo que haja um convento lá, ninguém tem conhecimento dessa budega! – falou Rebeca levemente estressada, era muito magra e parecia que poderia se quebrar com o menor safanão e tinha traços orientais, os que ficavam mais evidentes eram seus olhos e cabelos.
- Existe! Já até fui lá, é um lugar agradável, o problema é que a maioria das freiras são cegas. – Avisou Hans, um legitimo descendente alemão, de olhos azuis, cabelos louros bem claros e mais de dois metros de altura.
Todos no carro ficaram receados com a notícia chocante, mas não havia abalado-os.
Três horas depois, já almoçados e descansados da viagem a equipe de televisão estava ao pé da cordilheira esperando o guia, que chegou de Jipe.
- Sígueme, podemos seguir un poco más de unidad.
Subiram por mais quinze minutos, a estrada era íngreme e esburacada. Rebeca tirava fotos da mata que lhes cercavam, havia muitos sagüis naquele trecho, depois de andar mais alguns poucos quilômetros havia uma vila, onde o guia, Pablo, parou e conversar com o diretor Hans.
- Ele disse que teremos que percorrer um caminho a pé, e perguntou se queríamos parar para contratar duas ou três pessoas para nos ajudar a carregar os equipamentos, ele levará no carro dele. – Hans comunicou a todos
- Parece bom, já que temos equipamentos pesados. – respondeu Camila.
Hans voltou a falar com Pablo que em seguida saiu gritando instruções ao vilarejo em castelhano.
- Pablo conhece o povoado, falou que escolherá os melhores para nós.
O resto da viagem até o convento foi bem sossegada, ao saírem do carro para caminharem mais um quilometro a pé, Camila fez uma introdução da matéria antes da jornada a pé. Mário foi filmando o caminho a pedido de Hans, e Pablo falava de algumas curiosidades das redondezas, com a voz muito bem captada por um ponto que Rebeca tinha colocado em todos.

A altiva arquitetura do convento impressionou seus visitantes, os muros tinham seis metros de altura e havia esculpido em toda sua extensão: rosas de cinco pontas e Jesus crucificado, mantinha as cores do cimento, cinza, e musgos desciam pelas paredes. Um portão de ferro vedado era a única entrada ou saída do convento, conforme explicado pelo guia.
Um grave barulho de ferro se deu e em seguida abriu-se o portão com uma freira cega recebendo-os, vestida com um hábito preto e branco.
- Son bienvenidos – convidou a equipe de televisão a entrar, a freira sem olhos e com um sorriso alegre.
A entrada se dava para um largo terreno, onde havia caminhos com pedra para passagem, o restante era terra. No fim dos domínios do convento havia pessegueiros carregados de frutos. O que mais chamava atenção naquele pequeno pomar era que os pêssegos eram brancos, albinos.


- Por favor, sintam-se a vontade – falou uma freira em português com leve sotaque espanhol, a freira tinha boca pequena aparentava ter uns cinqüenta e cinco anos, mas havia poucas rugas em seu rosto, usava óculos de sol redondos, que provavelmente também era cega. – Sou a madre superiora deste convento, me sigam, levarei vocês aos seus aposentos.
- Hermana, me trajeron hasta aquí, pero ponerse en marcha, Hans vuelvo para sacarlos tres días en la mañana. Buenas tardes.
- Buenas – respondeu a irmã. – Eu sou a irmã Joanna, espero que não se incomodem mas tenho algumas regras aqui. Rapazes e moças terão que dormir em quartos separados, os rapazes lá no porão e as moças junto das outras irmãs. Depois das nove todos dormindo, acordamos as cinco e meia da manhã e nos recolhemos as seis da tarde, se acostumem a isso. Não é permitido o uso de celulares aqui dentro, pois o demônio pode se manifestar, então que por favor os desliguem.
Houve uma pausa enquanto a madre superiora levava a equipe para seus devidos aposentos
- Por favor, que pêssegos são aqueles na entrada? Nunca vi pêssegos iguais aqueles. – perguntou Camila entusiasmada.
- São pêssegos albinos, os mais doces do mundo só crescem nas terras do convento, as outras irmãs os consideram santos. Se quiser pode levar um pequeno pé, mas ainda não conheço ninguém que conseguiu criá-los.
Quando chegou as seis da tarde as freiras se recolheram, jantaram, oraram e tiveram um tempo livre onde conversavam, liam a bíblia em braile ou tricotavam, algumas já iam direto para seus aposentos.
Uma freira que estava do lado de Camila fez-lhe uma pergunta:
- Você sabe por que todas as freiras são cegas? – A freira era uma legítima brasileira.
- Não, por que? – questionou Camila.
- São os votos das trevas, quando nossos pecados são muito grandes, temos que fazer algum sacrifício pelo nosso senhor, então dedicamos nossas vidas as trevas, para ganharmos um pedaço do céu. Todas nós cometemos pecados mortais, mas obviamente as únicas pessoas que sabem nossos pecados são nós mesmas, a madre superiora e o padre á quem nos confessamos.
- Qual foi os eu pecado irmã?
A freira deu um sorriso amarelo desfocado de Camila e se levantou.
- Já é hora de nos recolhermos – avisou a todos.
E as freiras seguiram, umas com ajuda bengalas, outras tateando a parede pois já estavam a muitos anos no convento.
- Melhor não deixarmos nada espalhado pelo caminho por aqui – falou Mário.
Houve algumas risadas abafadas que foram cortadas por uma voz.
- La desgracia de otros, podría estar con ustedes. – disse uma das freiras.

Ao amanhecer toda da equipe se reunirão às seis da manhã para o café da manhã, mas Hans não se juntou a equipe.
- Onde está o Hans? Dormindo ainda? Ele que falou para acordarmos cedo. Eu vou procurar ele. – falou Rebeca a mesa.
- Não é necessário querida – falou a madre superiora – Hans disse que o Clóvis viria supervisionar o trabalho de vocês, e foi buscá-lo em Cali.
- Aquele gordo desgraçado, sempre querendo se enfiar em tudo só por que é sócio da emissora. – esbravejou Camila.
A madre superiora pigarreou e depois do silêncio constrangedor, fizeram a oração e apreciaram o café da manhã, onde havia muitas receitas contendo os pêssegos albinos, além da própria fruta in natura.
A manhã foi repleta de gravações, mostrando principalmente as dependências do convento para cegas, as adequações necessárias e a bíblia em braile, e de como era o cotidiano sem ter uma pessoa que enxergasse. Outro grande momento de gravação foi como era cultivado os pêssegos albinos, que as freiras não comentaram sua técnica, nem de onde conseguiram as mudas, disseram que já havia um pé ao se mudarem para aquele convento. As cinco da tarde Camila não pode se conter e perguntou?
- Por que todas as freiras são cegas? Há alguma relação o voto das trevas? O que seria realmente esse voto das trevas?
A pergunta foi feita diretamente a madre superiora, que por um instante não respondeu, como se pensasse no que responder.
- Esse é um erro comum das pessoas que ficam sabendo do nosso convento, na realidade o convento acolhe as freiras que ficaram cegas durante seu celibato, por ser um local próprio, a imaginação das pessoas corre solta. – e sorriu para a repórter.
Nesse exato momento a freira que deu essa informação a Camila entrava de volta no convento sendo seguida por mais duas freiras.
Quando deram seis horas as freiras lacraram o portão de ferro da entrada.
- Ei espera. E Hans? Ele pode chegar ainda. – rugiu Rebeca.
- Se ele não veio até agora não virá mais, o guia não vem de noite, os traficantes usam as rotas da cordilheira para o tráfico de drogas. Hans vai ser orientado a esperar na cidade. – disse a freira brasileira que havia lhe contado sobre o voto das trevas, mas agora ela estava diferente, estava fria. Algo acontecera a ela.
Camila, Rebeca e Mário ficaram juntando o material usado, enquanto as freiras entravam nas dependências do convento para o jantar, a equipe levou os equipamentos ao deposito onde as freiras haviam cedido, e depois foram ao salão principal para o jantar. Ao chegar estava vazio, nenhuma freira, nenhum prato de comida, estava tudo limpo como se as freiras não tivessem ido àquele lugar naquela noite.
A noite caia e não havia luminosidade, essa noite não haviam acendido nenhuma vela, como se esquecessem que tinham convidados que enxergavam.
- Pega a câmera Mário, use a lanterna dela para iluminar isso aqui. Rebeca fica perto de mim. Vamos subir aos aposentos das freiras para saber se elas estão dormindo já, elas não podem ter sumido assim.
Ao chegarem no corredor dos dormitórios Rebeca e Camila chamavam pelas freiras, abriam as portas mas todos os quartos pareciam estar vazios, a luz do luar lá fora não iluminava o interior dos aposentos. Ouviram passos na escada e as duas ficaram atentas, mas era Mário com a câmera.
- Ilumine os quartos por favor – pediu Rebeca
Os quartos estavam todos vazios, mas o último no final do corredor havia uma pessoa deitada e coberta. Foram se aproximando devagar da cama, e seus corações bateram mais rápido quando viram que o lençol estava manchado de sangue.
- No três - falou Mario – um, dois, três – e puxou o lençol.
Hans estava lá, morto, com o abdômen aberto, com parte do rosto retalhado e sem os olhos. Os três berraram, mas não conseguiam se mover, um amigo, morto. Havia algumas moscas em sua volta o corpo devia estar ali dês a noite passada, por isso ele não comparecera ao café da manhã.
Sorrateiramente uma freira veio por trás de Mário empunhando uma faca, que sem aviso enterrou em seu peito e foi subindo em direção do pescoço. Camila berrava e não tinha forças para salvar seu noivo e nem para correr, foi puxada pelo braço por Rebeca em direção ao corredor, para descerem as escadas e irem para o pomar de pêssegos albinos.
Tentaram desesperadamente abrir o portão um parrudo cadeado impossibilitava tal feito, algumas freiras começaram a sair do convento em direção ao portão, as garotas correram ao único lugar onde poderiam se esconder, o pomar de pêssegos albinos.
- No se puede ocultar-se... – falou uma freira com um tom de deboche na voz.
Camila e Rebeca estavam escondidas entre os pessegueiros, e as freiras caminhavam devagar na direção delas, estavam apavoradas, tentando se esconder atrás das folhas dos pessegueiros.
- Recogió estás – e uma freira que estava atrás de Rebeca enfiou suas agulhas de crochê nos olhos de Rebeca, no instinto Camila correu sem rumo, e foi atingida por um golpe de panela de ferro, caiu no chão com o nariz sangrando e cuspindo três dentes, logo depois desmaiou.

Camila acordou amarrada a uma cama, seu rosto doía violentamente, em sua volta três freiras cegas, um homem vestido de padre, ele mexia em algumas ferramentas em cima de um balcão.
- Olá – disse o padre em português no mesmo sotaque da madre superiora – que bom que se juntou a nós, estava esperando você acordar para lhe fazer o procedimento, não tem graça com a vítima desmaiada.
- Que procedimento? – perguntou Camila nervosa – Onde está Rebeca?
O padre e riu e respondeu pacientemente.
- Bom... O procedimento é abstrair seus olhos para fazer parte do nosso humilde convento, muita coragem essa a sua, a sua fé comove o coração de Deus. E quanto a sua amiga, como a irmã Lazarus já cuidou do procedimento, então ela já está em fase de aceitação de Deus – fez-se uma pequena pausa – Do nosso Deus.
- Eu não vou me juntar a essa seita imunda da qual você e essas aberrações fazem parte.
- Minha querida – e o padre apareceu na luz sorrindo, pela primeira vez Camila podia vê-lo, tinha uma estatura mediana, era magro e calvo, usava óculos e aparentava ser jovem com cerca de vinte e cinco anos. – Você não tem escolha, depois da remoção de seus olhos, você vai receber o espírito, e sua alma se libertará,dando lugar para espíritos que mereçam viver entre vós. – o padre pegou um pequeno bisturi, puxou um pesado banquinho de madeira e se sentou ao lado de Camila – O inferno está cheio, então trazemos as almas de volta ao mundo, enquanto a sua, vai para o paraíso, estamos fazendo uma troca justa. Infelizmente, os espíritos só aceitam corpos femininos, e temos que tirar os olhos por que a luz da vida que circula entre o mundo dos vivos pode destruí-los, e isso não é bom. Preparada?
E com um movimento rápido o padre rançou o olho direito de Camila e logo depois o enfaixou. Camila urrava de dor, mas nada podia fazer estava presa, se movimentou tanto que sua mão esquerda aliviou o cinto que lhe prendia.
- Em poucas horas – continuou o padre, como se nada houvesse acontecido – esse corpo não pertencerá mais a você, e aposto que estará muito melhor – o padre se ajeitou apara ter acesso ao olho esquerdo de Camila – Te contaram sobre o voto das trevas, realmente não mentiram, mas deviam ter falado nada, o voto das trevas é o ato de possessão de espírito, que expulsa o seu, um ser da trevas que o domina, e caminha livremente pelo mundo. E uma curiosidade, ao matar o corpo – e Camila conseguiu libertar a mão esquerda – A alma volta ao inferno. Preparada?
Mas antes que o padre inserisse o bisturi em seu olho, Camila juntou todas as forças que tinha e deu um soco no rosto do padre que caiu para trás. Rapidamente livrou sua mão direita, uma freira chegou a maca, correndo, mas Camila conseguiu pegar o bisturi que não havia caído e cortou a garganta da freira, logo depois ela livrou seus pés. O padre agarrou sua perna.
- Você não vai sair daqui.
No impulso, com a adrenalina a mil, Camila pegou o banquinho que o padre estivera sentado, arrumou-o com o assento virado para baixo e golpeou o padre dezenas de vezes, que por sua parou de reagir, jazia morto. Ele possuía um molho de chaves que Camila se apoderou.
Golpeou as outras duas freiras com o banco e correu, subindo as escadas em direção ao portão de entrada. Tentou as chaves do molho que estava com o padre, as freiras foram se aproximando, todas, lentamente, Rebeca estava entre elas, vestida de freira e sem os olhos, com uma venda branca tampando para não infeccionar, igual a tinham colocado em seu olho direito.
O portão se abriu.
Ao ouvirem o portão se abrir, a freiras correram desvairadamente. Camila saiu, forçou o portão para se fechar, braços cobertos pelo hábito, cruzavam a fenda do portão em sua procura. Finalmente fechou o portão, trancou por uma fechadura que havia do lado de fora, quebrando a chave lá dentro.
Camila suspirou debruçada no portão.
Ao se virar deu de cara com uma freira, que lhe mordeu o pescoço, rasgando sua jugular, ela a empurrou, mas já era tarde, se sentiu tonta e o sangue jorrava de seu corpo. Caiu rolando morro abaixo entre as folhas seca, parou ao bater em uma árvore, e lá agonizou sangrando até morrer.

No dia seguinte o convento de San Joaquim, estava como todos os outros dias, com as orações e as irmãs cuidando de seus amados pessegueiros de pêssegos albinos. Nas redondezas do convento não havia nem um corpo, nem indícios do que havia acontecido na noite anterior, os segredos do convento estavam guardados sob os pessegueiros.


Aos Starcorpianos