segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Os anjos: A primavera dos finados

"Essa é a primavera deles" disse uma mulher enquanto caminhava pelo cemitério em busca do túmulo de meu irmão, era um dia depois de finados e realmente o cemitério estava todo florido e o sol da manhã dava um ar celestial àquele lugar onde os mortos repousavam.
Estava perdido, o terreno era grande e nem imaginava onde procurar pelo túmulo, fazia tempo que não ia pra lá, e o local era quase desconhecido.
"O que faz aqui?" ela perguntou
"Procuro o lugar onde meu irmão foi enterrado, não me lembro ao certo" quando minha mãe falava para não falar com estranhos, quando era pequeno, nunca houve uma especificação para mulheres em cemitérios com flores na mão. Apesar de ser uma cena estranha, a mulher tinha serenidade boa de sentir.
"Você lembra se foi perto do Cristo?" perguntou ela olhando em meus olhos, apesar de toda aquela que o lugar transmitia, a mulher parecia bem.
"Sim, eu acho que foi" respondi.
"Ele é um ótimo ponto de referencia, procure na frente Dele, tem poucos túmulos, fica mais fácil".
Agradeci e fui ao encontro do Cristo e em questão de poucos minutos encontrei o túmulo, todavia não sabia o que fazer quando cheguei lá, apenas olhei e fui embora, na volta me deparei novamente com a mulher, e conversamos.
Ela me contou de seus parentes, o filho e o marido.
"Eu ia almoçar na casa de meus pais naquele dia, então, meu filho falou que iria dar apenas uma volta de moto, disse pra que não demorasse pois já iamos sair, a espera para ele voltar foi longa, mais de duas horas, na verdade, ele nunca voltou, morreu em um acidente na Avenida das Amoreiras, um ônibus o acertou. Eu e meu marido ficamos em choque, meu marido pior que eu, depois daquele acidente sua saúde foi piorando e um mês depois ele também veio a falecer. Demorou para que eu me recuperasse, mas hoje estou bem, e sempre venho um dia depois de finados aqui, venho ver a primavera deles".
Naquele momento vi que todos os meus sentimentos de ódio com o mundo eram mesquinhos e desnecessários, aquela mulher tinha perdido sua familia, mas isso não foi capaz de derrubá-la, estava bem consigo mesmo, feliz. E todos os meus ''problemas'' eram fúteis, assim como a vida que levava. Me despedi, e desde então nunca mais vi a mulher, ela desapareceu.
São nesses momentos que vejo que anjos caminham sobre a terra para nos ensinar algo, são pessoas como nós, mas com grandes ensinamentos a fazer.

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