sábado, 8 de agosto de 2009

Prove o padre

A noite acabará de cair na cidade, o cemitério já tinha fechado suas portas e um jovem de roupas longas e negras caminhava sozinho pelo velho cemitério, um cemitério centenário. O silencio era quebrado apenas pelos passos do jovem e o farfalhar de suas longas roupas, uma franja longa e lisa escondia parte de seu rosto e os olhos procuravam certa cripta. Diferente dos cemitérios atuais os túmulos eram como uma obra de arte cada, enfeitados com anjos, esculturas e flores. O rapaz parou e ficou defronte a um túmulo de mármore negro que estava guardado por dois leões negros.

O rosto do rapaz iluminado apenas pela luz da lua cheia, mostrava um semblante triste e sofrido, apesar da pouca idade. Devagar, o garoto se debruçou sobre a cripta e meditou algum instante, parecia que suas idéias estavam confusas não sabia o que fazer e de súbito, com uma força descomunal, arremessou o pesado tampão de mármore que estava acimentado junto ao tumulo, fazendo grande barulho. No fundo do tumulo via-se uma caixão de madeira nobre, antigo, estava ali há pelo menos cinqüenta anos.

A rapaz branco como a lua deu uma volta sobre o tumulo aberto, e parou na parte superior do caixão, onde havia uma abertura onde se podia ver o rosto do falecido. Não dava para ver nada, estava escuro, e naquele orifício só se enxergava um buraco negro. O garoto admirou algum momento, e em seguida levou o seu pulso até a face, onde deu uma mordida, e o sangue começou a escorrer descontroladamente. Ele direcionou o sangue para a abertura do caixão, e deixou seu sangue escorrendo, até parar depois de alguns minutos. Ele olhou em seu pulso, não havia nenhum sinal de que algum tempo atrás houve um grande corte.


Em seguida ele se sentou no tumulo do lado e ficou observando o túmulo violado.

Não demorou muito para ouvir-se alguns ruídos do fundo da cova e em seguida, como uma fênix que surge das cinzas, um homem deu salto de mais de metros de dentro da cova, caindo levemente do lado de fora da sua ultima morada, o túmulo.

O homem tinha longos cabelos lisos e escuros, uma barba mais clara, sua aparência era de um homem com pouco mais de quarenta anos, parecia anêmico e muito fraco.

O garoto e o homem que acabará de sair do tumulo se encaram. O garoto sorriu. O homem mostrou suas presas, os dentes caninos maiores e mais pontiagudos que os outros. O garoto fez o mesmo, mostrou seus dentes, e devagar foram crescendo seus caninos. Os dois se encaram mais um momento e depois caíram na risada.

- Há quanto tempo fiquei fora de ação? – perguntou o vampiro mais velho.

- Uns vinte e cinco anos Nathaniel, mas não perdeu nada não.

- Os carros já estão voando, as televisões são hologramas?

- Não, ta tudo a mesma merda.

- Por que me despertou então Thiago?

- Willa - respondeu Thiago.

Nathaniel fez uma cara surpresa e em seguida soltou um sorriso sacana.

- Isso vai ser divertido. Mas agora estou com fome.

- Podemos esperar o zelador do cemitério, logo ele passa por aqui – sugeriu o jovem vampiro.

- Não... quero algo diferente para minha primeira refeição em anos.

E os dois caminharam juntos pelo cemitério, a roupa de Nathaniel estava puída e suja e rasgada em alguns lugares.

- Espere! Acho que enterraram alguém por aqui recentemente, sinto cheiro de liquido de embalsamar – os dois andaram entre uma fileira de túmulos, onde Nathaniel fareja constantemente – Aqui – e indicou com a cabeça um tumulo azul cheio de anjos em volta – Eduardo Rodrigo Freire Corrêa, nascido em 12 de setembro de 1979 e falecido em 17 de julho de 2008. Que dia é hoje?

- 19 de julho de 2008 – respondeu Thiago.

- Foi enterrado hoje, espero que seu terno me sirva – Nathaniel invadiu mais um tumulo, entrou lá dentro, e saiu com um lindo terno Hugo Boss em riscas de giz, ajeito – Vamos ao jantar agora – e os dois caminhando saíram do cemitério.

Eram quase 10 da noite e ainda várias pessoas caminhavam pelas ruas, alguns tinham acabado de sair do trabalho, outros em pontos de ônibus para aproveitar o final de semana que estava começando.

- Está movimentado – comentou Nathaniel.

- E você vai querer o que, aquela piranha que está com uma saia no útero tentando se dar bem na balada hoje? – sugeriu Thiago indicando uma mulher morena que estava em um ponto de ônibus - Ou a doce velhinha que está voltando do supermercado que provavelmente acabou o leite? – comentando a senhora que passou na frente deles.

- Eu não sei, depois de tanto tempo fora, tava pensando em algo como uma virgem, ou uma criança, mas não quero crianças de rua.

- Isso é difícil de conseguir – e os dois continuavam caminhando, e após passar em frente a um igreja, onde acabava de se realizar uma cerimônia de casamento completou – Que tal uma noiva? – que estava nas escadarias da igreja tirando fotos com seu marido e as madrinhas.

- Não, seu sangue não deve ser puro, em um mês esse cara já vai ser corno, olha a cara dele – os dois pararam e ficaram olhando a sessão de fotos – e aposto que seu sangue é AB positivo, odeio esse.

- O noivo então? – que nesse momento carregava a esposa no colo para mais fotos.

- Sem auto-estima, um perdedor na vida, provavelmente infeliz. Casou como ultimo recurso, em no máximo cinco anos se suicida – Nathaniel nem piscava procurando sua refeição.

- Padrinhos? Madrinhas? Quem sabe a dama de honra? – a dama de honra era uma garotinha de uns seis anos de idade, loira, olhos azuis com um vestido lilás, estava se sentindo uma princesa – É uma criança! – frisou Thiago, ao perceber que o amigo não respondia.

- Eu sei, estou vendo, mas não quero ela. Ainda.

- Prove o padre – falou Thiago subitamente, quando o mesmo surgiu das portas da igreja – Não a pecado na carne.

- Mas é gordo e careca, deve ter algum tipo de genesia.

- É um homem abençoado, e alias, crucifixos, água benta, ou qualquer outra coisa não nos afetam. Se pudéssemos nos expor queria que esses humanos soubessem isso e não fizessem cruzinhas com os dedos quando atacamos, acho ridículo.

- Que porra é essa? – perguntou Nathaniel ao passar uma mulher estranha ao seu lado

- Um travesti, uma mulher num corpo de homem, é muito comum – um silencio tomou conta dos dois e eles voltaram a andar, deixando a cena do casamento para trás – Mas eu ainda acho que você devia provar o padre.

- Hoje não – e deu um sorriso ao amigo – Vocês atacam humanos todos os dias?

- Não, eu só ataco em ocasiões especiais ou quando estou com raiva, temos um banco de sangue próprio, humanos doam, nós bebemos, assim não precisamos atacar sempre. Alguns de nós até pararam de atacar.

- E você quer mesmo que eu ataque alguém?

- É uma ocasião especial, seu renascimento.

Os dois caminhavam por um caminho escuro e deserto em direção ao centro da cidade, onde a variedade seria gigantesca.

Um metal frio tocou o rosto de Nathaniel.

- Passa a grana, ou estouro sua cabeça – o homem era branco, forte e usava óculos escuros. Outros homem de moletom com capuz, colocou uma faca no rosto de Thiago – Você também playboy, passa o dinheiro, celular tudo que tiver nos bolsos. Esvazia.

- Eu avisei. Prove o padre – falou Thiago – Agora não temos mais escolha. Vai induzir ou atacar?

- Cala a boca e passa grana – gritou o homem armado – Ta querendo levar um tiro?

- Atacar.

Os dois vampiros, num movimento rápido, desarmaram os homens, e caíram de boca em suas jugulares. Antes que alguém os vissem, os dois puxaram os bandidos para o meio das arvores e ali fizeram sua refeição.

- Devia ter ficado mesmo com o padre.



Um comentário:

Anônimo disse...

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