segunda-feira, 23 de maio de 2011

[biografia] - Alucinações



Os dias se passaram e o projeto dos dois corria, o jovem estava lendo com afinco todos os romances publicados pelo velho que não eram poucos, e depois para fazer a comparação com a vida do velho teria que fazer uma entrevista levando em conta o tempo e de como agia a sociedade há décadas atrás. Seu trabalho além de literário, era sociológico, pois, aquele senhor, base de seu projeto era um dinossauro, que já havia passado por diversos problemas sociais e econômicos e tudo estava, de certa forma, transposto em seus livros. Seu TCC seria uma biografia.
Era uma manhã gélida de outono, enquanto o jovem estava enfurnado numa biblioteca, o velho estava em seu apartamento escrevendo seu próximo romance, este que o escrevia a mais de seis anos era seu desafio, o qual acredita ser seu último desafio literário, apesar de se sentir bem sentia que a morte logo lhe visitaria e poderia enfim desencarnar daquele corpo velho.
A musica clássica estava tocava alta no apartamento do velho, a música fazia com que seus pensamentos fluíssem, mas algo chamou a sua atenção, uma barulho na poltrona a frente do seu computador, fez com que o velho desviasse o olhar do monitor para a poltrona, ele viu um rapaz sentado, um rosto conhecido, um rosto que conviveu por mais de quarenta anos.
- Bom dia namorado – disse o velho com uma voz calma e serena.
- Olá escritor! – respondeu o rapaz.
- Você veio me buscar ou estou tendo uma alucinação retroativa devido a minha juventude errante e sem conseqüências?
- Não sei, me diga você!
- Alucinação sem dúvida! – sem sua cara no maior estilo blaze e voltou a escrever seu romance.
- Só por isso você vai me ignorar e me abandonar aqui?
- Pensasse nisso antes de morrer a quinze anos atrás e me deixar sozinho aqui no mundo – disse olhando para o monitor e escrevendo seu romance.
- Você sabe que a culpa não foi minha e...
A campainha tocou e o velho se levantou e foi atender a porta, deixando o espectro a falar sozinho. Á porta estava o jovem estudante, com um pequeno gravador à mão.
- Estou aqui para nossa primeira entrevista – anunciou.
- Ótimo, você compromissos essa noite? Perdão, entre!
O garoto foi adentrando na casa e respondendo a pergunta do velho:
- Não, não tenho nada para fazer. Porque?
- Pretendo terminar a entrevista ainda hoje, se não me perco nos fatos, fora que posso morrer a qualquer instante.
- Sem problemas. – respondeu o estudante.
- Então, por favor – lhe indicando o sofá – Como faremos? Perguntas e respostas, ou falarei da minha vida?
- Você fala, caso haja dúvidas lhe faço perguntas. Mas acha que consegue falar da sua longa vida em tão pouco tempo?
- Veremos... Alias, me dê um instante para eu desligar meu computador.
- Claro, claro, enquanto isso eu preparo o gravador.
O velho caminhou até o seu escritório, não havia mais ninguém sentado na poltrona, desligou o computador e ao virar para sair do aposento deu de cara novamente com o espectro do rapaz.
- Com licença - disse o velho.
O fantasma se aproximou do velho e beijou seus lábios, um beijo úmido e demorado, um beijo que a anos não sentia, há pelo menos quinze anos, quando seu parceiro faleceu.

Nenhum comentário: