terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qui culum habet timorem tenet

- O homem é um animal - gritava o delegado - Destruiu dezenas de famílias e não diz uma palavra, não tem medo de nada, e ainda ri da gente.
Eles precisavam de uma confissão do homem, um negro com mais de dois metros de altura, forte e mal encarado, não tinham nenhuma prova que ele cometera tais crimes, pois não havia mais testemunhas, o homem literalmente jantara todos. Sua última esperança era o padre da paróquia da região do bandido, por ser católico praticante, o delegado achou que o padre poderia fazê-lo falar.
Depois de quase duas horas um pequeno homem de cerca de um metro e sessenta entrava pela porta da delegacia, era calvo e tinha um jeito muito bondoso.
- Por favor seu padre, precisamos prender esse meliente, ele cometeu crimes barbaros, será que o senhor consegue tirar alguma coisa dele? - o delegado estava desesperado, sentia-se isso em sua voz.
- Vamos ver o que posso fazer - disse o padre, que estava beirando os setenta anos.
O padre e o delegado entraram na sala de interrogatório, e o homem estava lá, algemado.
- Meu bom rapaz - começou o padre com sua voz calma e doce - Fiquei sabendo que o senhor fez coisas muito ruins a pessoas inocentes - o homem nada respondia só ficava quieto com um olhar ameno - Jesus não gosta dessas atitudes, está nos dez mandamentos meu filho, 'não mataras', você foi sempre tão bom fiel, porque fazes essas coisas?
O homem nada falava, apenas fitava o padre. Então o padre continuou.
- Você precisa pagar pelos seus crimes, pelos seus pecados, então confesse ao bom delegado seus crimes e purifique sua alma, assim poderás ganhar o reino dos céus. Eu lhe conheço desde que era uma criancinha, quando era coroinha se lembra? Pois por que escolherá esse caminho do pecado meu filho?
O homem nada fez, continuou com o olhar vazio, nem se mexia.
- Muito obrigado seu padre, mas acho que é inutil, desculpe incomodá-lo - disse o delegado já se levantando.
- Um momento - falou o padre, que se levantou e foi até o ouvido do assassino, e cochichou - Lembra de uma certa esposa ex-guerrilheira? Ela não vai gostar nada de saber que alguém a trai com a irmã e que vão cortar a força em dois dias, por que eu sei que você não pagou - com um tom de voz sacana.
- Eu me rendo, eu matei todo mundo, cozinhei e comi, mas por favor, me levem pra um prisão no Acre, de preferencia - disse o assassino.
Um policial levou o homem para uma cela no interior da delegacia.
- Mas o que você falou para ele padre? - perguntou o delegado aturdido.
- Qui culum habet timorem tenet - respondeu o padre, que virou as costas e saiu.
Um segundo policial que estava do lado do delegado sorriu com que o padre disse, e traduziu o latim para o delegado.
- Quem tem cu, tem medo.

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